A Alcoa Corporation, junto com o Governo do Estado, através da Secretaria de Indústria e Comércio, ocupou grande parte do espaço disponível na imprensa do Estado para noticiar, com todas as ênfases, a retomada do processo de industrialização da bauxita e sua transformação em alumínio, interrompido desde o ano de 2015, quando, ao que consta pelas notícias da época, foram encerrados, por decurso de prazo, todos os incentivos, entre os quais o subsídio da energia elétrica, da água vinda do Itapecuru, do imposto de industrialização e o de circulação de mercadorias.
Segundo noticiado, citada operação entrará em andamento a partir do segundo trimestre de 2022 e prosseguirá até atingir a capacidade limite instalada, em torno de 268 mil toneladas.
Para tamanho feito, serão gerados, em toda a cadeia produtiva, algo em torno de 750 empregos diretos e 1500 indiretos. Sem descer a detalhes, os press releases institucionais informam que, a partir de 2024, o parque fabril será alimentado por energia, insumo mais importante neste tipo de planta industrial, renovável.
Para situar o tempo, esta é a mesma multinacional que chegou ao Estado na gestão do ex-Governador João Castelo, sendo, muitas vezes, acusada de poluir perigosamente o solo e o ecossistema. A mesmíssima que foi acusada de se beneficiar com a adutora do Itapecuru, enquanto faltava água para os ludovicenses. Precisamente a mesma que ganhou um porto privado na Baia de São Marcos e consumia a energia elétrica subsidiada pelos maranhenses.
Aqui, não se deseja refutar o papel do capital no desenvolvimento mundo afora, embora seja necessário ressaltar o caráter oportunista do dinheiro. Na mesma medida, não se deseja ser “inocente útil”.
Para que isso não ocorra, é necessário que circule, com a maior brevidade e clareza, o total das vantagens e garantias oferecidas à corporação para que ela voltasse a ter interesse, mesmo com a desvalorização de moeda nacional, em produzir bauxita, no Brasil, e, em particular, no Maranhão.
Este complexo industrial jamais deixou de exportar o minério: apenas sua produção industrial tinha se ausentado do Brasil. Mesmo quando ainda operava, no país, que valor agregou para a economia local? que cadeia produtiva, a partir do alumínio, ajudou o desenvolvimento do Maranhão? Lamentavelmente nem mesmo se tem uma fábrica de panelas de alumínio.
É contra isto que se levanta! Precisa-se sair da condição de meros exportadores de comodities que geram empregos lá fora, tornando-se, aqui, produtores de todo ciclo industrial. Deseja-se deixar de ser o segundo maior produtor de bauxita e apenas o sétimo de alumínio. Chega de bater palmas para Tio Sam e/ou para os Chineses.
Jamais desconhecer-se-ão os méritos de Flávio Dino, nesta e em tantas outras empreitadas. Deseja-se tão somente que o Governador aproveite o momento e promova a atração de empresas que possam, a partir do alumínio aqui produzido, enriquecer o portfólio empresarial do Maranhão e agregar valores à economia do Estado, gerando empregos e oportunidades, posto que este momento parece apropriado para a criação de um grande arranjo produtivo a partir do alumínio.
O mundo está em seu menor nível de produção mundial de alumínio, os interesses das corporações podem casar-se com os do Maranhão. Por que não tentar?
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*Renato Dionisio, Historiador, Poeta e Produtor Cultural.