Partido havia anunciado filiação do presidente para dia 22, mas adiou devido a divergências em relação às negociações das seções estaduais. Bolsonaro não quer alianças com siglas rivais
Os presidentes dos diretórios regionais do PL, reunidos nesta quarta-feira (17) em Brasília, deram ao presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, “carta branca” para acertar com Jair Bolsonaro os termos da filiação do presidente da República ao PL.
Em nota divulgada após a reunião, o partido informou que está “pronto e alinhado” para receber Bolsonaro. “O presidente nacional do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, tem carta branca para conduzir e decidir sobre a sucessão presidencial e a filiação do presidente Jair Bolsonaro”, diz o texto. Se acertada a filiação, o presidente disputará pela legenda a reeleição no ano que vem.
“O partido, unanimemente, entrega uma procuração ao presidente Valdemar para que ele trate com o presidente Bolsonaro, e todo mundo vai receber o presidente de braços abertos”, declarou o senador Jorginho Mello (PL-SC), que participou da reunião.
No último domingo (14), por meio de nota, o PL informou que, por “comum acordo”, a cerimônia que selaria o ingresso de Bolsonaro na legenda tinha sido adiada. O evento estava marcado para o dia 22.
Em viagem a Dubai, Bolsonaro afirmou, após o adiamento, que as coligações estaduais deveriam ser discutidas. “A gente não vai aceitar, por exemplo, São Paulo apoiar alguém do PSDB”, disse.
Jorginho Mello afirmou que não haverá problemas com as representações do PL nos estados e que Costa Neto resolverá as “arestas” regionais. Segundo ele, não haverá coligação com outro partido que não esteja “alinhado” com Bolsonaro.
“Tudo encaminhado, tudo resolvido. Todos os estados – Nordeste, Sul, Norte – o apoio do partido será para o presidente Bolsonaro e não terá nenhum governador, nenhum senador que não esteja alinhado com o projeto do presidente Bolsonaro”, declarou.
Em Dubai, o presidente citou outras pendências a serem resolvidas com o PL.
“Temos muitas coisas a acertar ainda. Por exemplo: o discurso meu e do Valdemar nas questões das pautas conservadoras, nas questões de interesse nacional, na política de relações exteriores”, detalhou Bolsonaro. “A questão de defesa, os ministros, o padrão de ministros a continuar. Casamento tem que ser perfeito.”
Após a reunião com os presidentes regionais do PL, O senador Wellington Fagundes (PL-MT) afirmou que o PL é “um partido de centro”.
“Estamos recebendo o presidente com uma posição ideológica muito clara. Dificilmente acontecerá uma coligação com um partido de esquerda”, afirmou Fagundes.
Segundo o ex-senador Magno Malta, não haverá coligação nos estados com partidos da esquerda.
“Todo mundo vai fazer o seu sacrifício para poder receber o presidente da República. As questões [estaduais] são pontuais e são resolvíveis para o partido receber o presidente da República. O PL não apoiará o PT, a esquerda, em lugar nenhum”, disse Malta, presidente da sigla no Espírito Santo.
Outro obstáculo à filiação de Bolsonaro, conforme mostrou o blog da jornalista Andréia Sadi, é a repercussão negativa de uma união com o partido de Valdemar Costa Neto, condenado e preso por causa do escândalo do mensalão.
Eleito presidente pelo PSL em 2018, Bolsonaro deixou o partido em 2019 em meio a divergências com a cúpula da legenda. Ele chegou a articular a criação de uma nova sigla, a Aliança Pelo Brasil, que não passou da fase de coleta de assinaturas.
Para concorrer à reeleição, Bolsonaro precisa estar filiado a um partido político pelo menos seis meses antes do pleito – ou seja, até abril do ano que vem.
Centrão
O PL é um dos principais partidos do grupo informal da Câmara conhecido como Centrão, com o qual Bolsonaro se aliou e de quem depende para aprovar projetos de interesse do governo e se sustentar politicamente.
Nesse grupo, Valdemar é um dos políticos historicamente mais influentes. Em 2012, Valdemar foi condenado no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ele foi preso em 2013 e em 2014 passou a cumprir prisão domiciliar. Dois anos depois, em 2016, o ministro do STF Luís Roberto Barroso concedeu perdão da pena e determinou a soltura. Na ocasião, a decisão seguiu parecer da Procuradoria Geral da República (PGR).