O estado do Rio Grande do Sul enfrenta uma das piores enchentes de sua história, com 446 municípios afetados pela devastação das águas. No entanto, segundo o professor Roberto Reis, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS, parte dessa tragédia é resultado direto da ação humana. Reis aponta construções em áreas de alagamento, falta de manutenção em diques de contenção e barreiras anti-alagamento como principais fatores contribuintes para a catástrofe.
Em entrevista à Agência Brasil, Reis destacou que Porto Alegre, por exemplo, é uma área naturalmente propensa a alagamentos, situada em uma região de várzea próxima ao Lago Guaíba. No entanto, a ocupação desordenada dessas áreas e a ausência de medidas adequadas de prevenção contribuíram para a magnitude da tragédia. Ele ressaltou a importância da manutenção e reconstrução adequada dos diques e barragens como medida essencial para evitar futuras catástrofes.
Segundo o professor Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, o evento foi desencadeado por um volume excepcionalmente alto de chuvas na bacia do Guaíba, registrando níveis recordes em algumas regiões. A rápida elevação dos rios na serra, seguida pelo escoamento mais lento nas áreas de planície, contribuiu para a gravidade da situação.
Além da questão climática, Paiva ressaltou a importância das áreas de várzea na mitigação dos impactos das cheias. Essas regiões atuam como reservatórios naturais, retardando o escoamento da água e reduzindo a velocidade das enchentes, o que pode ter evitado consequências ainda mais severas para áreas urbanas como a região metropolitana de Porto Alegre.
Embora as chuvas extremas sejam fenômenos naturais, a intensidade da tragédia no Rio Grande do Sul ressalta a necessidade urgente de ações preventivas e de planejamento urbano adequado para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela ocupação humana desordenada das áreas vulneráveis.