Por Steffano Silva Nunes.
2020 superou todas as nossas expectativas de dias difíceis. Minha geração cresceu temendo uma terceira guerra mundial. Passamos pela “guerra fria”, mas não tiramos da cabeça a preocupação com armas nucleares e suas similares. Vivíamos assombrados com o anunciado encontro marcado com grandes tragédias futuras que ocorreriam mais dia menos dia, mas não imaginávamos, nem nos nossos piores pesadelos, que um elemento microbiológico é que seria o causador de tanto impacto em todo o mundo ao mesmo tempo.
Se a vida é um constante teste diante do qual necessitamos ser aprovados para continuar tendo a oportunidade de estar aqui no nosso planeta, tudo indica que precisamos nos dedicar mais ao dever de casa. A luta de poder mundial que cria guerras, produz hordas de refugiados e fabrica as mais devastadoras armas, nos deixou uma herança remanescente de cerca de 17.000 ogivas nucleares, espalhados pelo mundo, das quais estima-se que umas 4.300 estão operacionais e mostra que não nos satisfizemos apenas em conhecer a parte “indivisível” da matéria, o átomo, mas nos arriscamos em futucar o seu núcleo provocando e alterando o equilíbrio entre prótons e nêutrons.
O materialismo histórico analisa a sociedade de forma objetiva. É uma constatação de que o modo de produção através da transformação da matéria, define o modo de vida dos humanos. Nesse processo, homens e mulheres se organizam por sua similaridade de trabalho, isso define onde moram, onde os filhos estudam etc. As classes sociais se formam e criam por consequência a estratificação que gera interesses diferenciados. Daí surge e sobrevive o racismo, o machismo, etc., pois classes sociais com mais poder impõe o seu “estilo”. Enquanto muitos não tem onde morar, outros vivem em cavernas verticais, tendo como um dos itens mais apreciados o número de vagas de garagem.
Quando se fala em reduzir ou extinguir o estudo de filosofia e sociologia nas escolas nos deparamos com a possibilidade de que talvez mais do que nunca precisamos nos dedicar a filosofar. Questionar tudo que nos cerca a partir de nós mesmos, já que entre o espaço de análise de onde viemos e para onde vamos, há muita coisa a ser compreendida e ajustada para que a vida em sociedade possa triunfar.
Somos a única espécie capaz de pensar, de raciocinar. Isso nos permite fazer escolhas. As escolhas definem nossos caminhos. Os caminhos definem a nossa vida e a nossa vida pode impactar em muitas outras. Mas o nosso mundo, com o seu conjunto de complexidades, parece que tem também uma vida própria. O desequilibro entre as espécies e a matéria atinge a todos em algum momento. Chegou a nossa vez de pagar o preço.
O bom de tudo isso é que ainda podemos escolher a forma de pagar. Ainda temos tempo em optar por uma vida com sustentabilidade, compreendida como uma forma de nos relacionarmos entre nós mesmos com respeito às mais variadas diferenças que temos na nossa grande aldeia global e com a natureza, respeitando os limites de produzir, consumir e descartar, pois somos também a única espécie a produzir lixo.
Por mais dolorosas e traumáticas que sejam as experiências e perdas desse ano, elas nos mostram que o que está por vir pode ser melhor do que o que temos no mundo atual. Depende de nós. O mundo está doente e para ser curado nos pede para fazermos um futuro diferente. Pois “o futuro não é mais como era antigamente”. Vamos em frente com fé, esperança e principalmente fazendo a nossa parte, acreditando sempre que dias melhores virão.
Feliz Ano Novo.