A malária é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma doença negligenciada. Agravos desse tipo são descritos como endêmicos em populações de baixa renda e contribuem para a manutenção de situações de desigualdade no mundo, segundo a definição da OMS.
O baixo investimento em pesquisas científicas por grandes empresas e farmacêuticas amplia as lacunas no diagnóstico e no tratamento. Embora seja uma doença que pode ser prevenida e tratada, a malária ainda apresenta impactos nocivos para a saúde de pessoas em todo o mundo.
De acordo com a OMS, em 2020, houve uma estimativa de 241 milhões de novos casos e 627 mil mortes relacionadas à doença em 85 países. Mais de dois terços das mortes ocorreram entre crianças menores de 5 anos que vivem na África.
Nesta segunda-feira (25), Dia Mundial de Luta Contra a Malária, a OMS faz um apelo aos países por investimentos em inovação e tecnologia com o objetivo de reduzir a carga da doença a nível global.
Segundo a OMS, nenhuma ferramenta disponível hoje resolverá o problema da doença. Por isso, são necessárias novas abordagens de controle de vetores, diagnósticos, medicamentos antimaláricos e outras ferramentas para acelerar o ritmo do progresso contra a malária.
A OMS alerta que apesar dos avanços constantes na redução do fardo global da malária entre 2000 e 2015, o progresso entrou em estagnação nos últimos anos, particularmente em alguns dos países mais afetados pela doença como os da África Subsaariana.
“É necessária uma ação urgente e concertada para colocar o mundo de volta na trajetória para alcançar as metas de 2030 da estratégia global da OMS contra a malária”, diz a entidade em comunicado.
Fiocruz investe em desenvolvimento de vacina
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) participa, por meio do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), em parceria com a Fundação de Medicina Tropical (FMT), de um projeto de pesquisa pré-clínica de uma candidata a vacina para malária vivax.
O projeto teve fomento aprovado pelo Fundo Global de Tecnologia Inovadora em Saúde (GHIT) do Japão.
De acordo com a vice-diretora de Pesquisa da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, coordenadora local dos estudos, a fundação conta com uma plataforma voltada à realização de ensaios para testagem de substâncias, bem como novas formulações vacinais para a malária causada pelo protozoário Plasmodium vivax.
“É um trabalho de suma importância, visto que um dos grandes gargalos para o controle da malária vivax reside na existência de um estágio latente no fígado, o hipnozoito, que é responsável pelo reaparecimento da doença sem a necessidade de uma nova picada do mosquito infectado”, diz Stefanie em comunicado.
Segundo a pesquisadora, os medicamentos disponíveis atualmente para atacar o parasita neste estágio, a primaquina, e o seu substituto em dose única, a tafenoquina, não podem ser utilizados amplamente devido aos seus efeitos colaterais em determinadas pessoas, como gestantes e indivíduos com um tipo específico de deficiência enzimática.
Vacinação avança na África
Mais de 1 milhão de crianças em Gana, Quênia e Malawi já receberam uma ou mais doses da primeira vacina contra a malária do mundo, de acordo com a OMS.
Os projetos piloto da vacina contra a malária, lançados pela primeira vez pelo governo do Malawi em abril de 2019, mostraram que a vacina RTS,S/AS01 (RTS,S) é segura e viável de ser aplicada e que reduz substancialmente os casos graves e potencialmente fatais da malária.
As descobertas embasaram a recomendação da OMS, em outubro de 2021, para o uso expandido do imunizante entre crianças que vivem em ambientes com transmissão moderada a alta da malária. A OMS estima que, se amplamente implantada, a vacina poderia salvar a vida de mais 40.000 a 80.000 crianças africanas a cada ano.
Sobre a malária
A malária é uma doença infecciosa, potencialmente grave, causada pelo parasita do gênero Plasmodium. O protozoário é transmitido ao homem pela picada de mosquitos do gênero Anopheles infectados.
Segundo a Fiocruz, existem três espécies de Plasmodium que afetam o ser humano no Brasil: P. falciparum, P. vivax e P. malariae. O mais agressivo é o P. falciparum, que se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, destruindo de 2% a 25% do total de glóbulos vermelhos e provocando um quadro de anemia grave.
A prevenção inclui medidas de controle do mosquito, como o uso de mosquiteiros, roupas que protejam pernas e braços, telas em portas e janelas, além de repelentes.
No país, a maioria dos casos de malária se concentra na região Amazônica, incluindo os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
De acordo com o Ministério da Saúde, os estados na região extra-Amazônica apresentam poucos casos. No entanto, observa-se uma alta letalidade em comparação com as notificações registradas na região Amazônica.
Assim como a dengue, a malária não é pode ser transmitida de uma pessoa para outra. A infecção depende da participação de um vetor que, neste caso, é a fêmea do mosquito Anopheles. Os insetos são mais abundantes ao entardecer e ao amanhecer.
Os principais sintomas da doença são febre alta, calafrios, tremores, suor excessivo e dor de cabeça. Sem o tratamento adequado a malária pode provocar complicações como alteração da consciência, falta de ar ou hiperventilação, convulsões, pressão baixa, hemorragias e choque.
O diagnóstico pode ser feito por diferentes métodos, que incluem a detecção do protozoário causador da doença ou de antígenos presentes no sangue do paciente.
O tratamento é indicado pelo médico e pode ser realizado com o uso de comprimidos fornecidos gratuitamente em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). A medicação utilizada varia de um caso para o outro, de acordo com fatores, como a espécie do protozoário, idade e o peso do paciente e demais condições associadas como gravidez e problemas de saúde prévios.
Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento adequado e em tempo oportuno pode levar à cura da doença.
Fonte: CNN Brasil