Os seis infectados pertencem à tripulação do navio oriundo da África do Sul, que não teve permissão para atracar na costa maranhense. Um deles está internado. Variante é mais transmissível e especialistas alertam para riscos enquanto a vacinação segue atrasada no país
O Governo do Maranhão, através da Secretaria de Saúde, confirmou nesta quinta-feira os primeiros casos de infecção no Brasil provocados pela cepa indiana do novo coronavírus. Os infectados pela variante B.1.617.2 foram seis tripulantes do navio Shandong da Zhi, oriundo da África do Sul e fretado pela empresa Vale para a entrega de minério de ferro em São Luís, capital do Estado. A informação foi divulgada pelo secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, que também é presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde).
De acordo com a Secretaria, a preocupação começou quando um homem indiano, de 54 anos, foi internado num hospital de São Luís com sintomas de covid-19. Ele começou a sentir febre no dia 4 de maio e foi encaminhado de helicóptero para um hospital da rede privada —os tripulantes estão isolados no navio desde que chegou à costa brasileira, e sequer atracaram no porto maranhense. Na segunda, 17 de maio, outros dois tripulantes tiveram sintomas e foram encaminhados da mesma forma ao hospital, mas tiveram alta. Segundo Carlos Lula, seis dos 24 tripulantes fizeram o teste genômico pelo Instituto Evandro Chagas e testaram positivo para a nova cepa. Outros nove foram diagnosticados com covid-19, sem saber qual cepa é, e nove tripulantes não foram infectados pelo vírus. Apenas um dos 24 está fora do navio, internado no hospital.
A variante indiana, chamada de B.1.617, foi considerada “de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e possui três sub-linhagens: B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3. A segunda delas, que foi detectada no Maranhão, é a que tem se mostrado mais transmissível para as autoridades de saúde. “No Reino Unido, essa mesma sub-linhagem passou a representar 11% dos casos em duas semanas de circulação durante o mês de abril. É um crescimento assustador”, relata Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Ter uma nova variante entrando na equação num momento em que Governos adotam flexibilizações imprudentes é criar um cenário de transmissão acelerada que vai ser muito problemático no futuro”, completa.
O secretário de Saúde do Maranhão confirmou que, fora os profissionais de saúde que o atenderam, nenhum tripulante do navio sul-africano teve contato com pessoas em terra, o que Fontes-Dutra considera “uma medida sanitária muito positiva”. A biomédica, no entanto, reforça que não se tem a certeza de que os casos maranhenses são realmente os primeiros da cepa indiana no Brasil. “O Rio Grande do Sul faz fronteira com a Argentina, onde a variante já foi detectada, e tem regiões com um aumento expressivo de casos. Ela já pode ter entrado no Brasil por outros lugares”, pontua ela. “Existem medidas de vigilância genômica, mas o rastreio é subnotificado, com uma série de limitações que não nos permitem fazer a detecção no momento em que a transmissão acontece. A minha preocupação é saber que muitas vezes o primeiro caso é só simbólico, porque quando identificamos ele, já sabemos que deve ter infectado outros”, explica.
Fontes-Dutra afirma que as variantes indianas apresentam a possibilidade de reinfecção em relação às outras cepas do vírus, mas os testes feitos até agora indicam que elas são abrangidas pelas vacinas aplicadas no Brasil. “O que preocupa é o incremento na transmissão, uma vez que a vacinação não deve acelerar nos próximos dois meses. Então, independente do escape imunológico, muitas pessoas ainda estarão suscetíveis se não houver adesão a medidas de isolamento e combate à covid-19″, ressalta a cientista.
Na Índia, a cepa foi responsável por uma situação de colapso sanitário desde o mês de abril, levando o país asiático a uma situação de falta de oxigênio e crematórios lotados. Nesta quarta, o país registrou 4.529 óbitos nas últimas 24 horas, um recorde mundial, e chegou a 25,5 milhões de casos, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo a Universidade de Oxford, a Índia foi responsável por 33% das mortes por covid-19 no mundo durante a última semana.