Definição de nomes para comissões temáticas evidencia inexperiência do chefe do legislativo e eleva desgaste de vereadores na capital
Já tem certo período que venho observando que a democracia brasileira está manca. Uma democracia verdadeira tem de estar apoiada em Poderes autônomos, e não é isso o que acontece por aqui. Executivo, Legislativo e Judiciário ” sem falar no Ministério Público, no Tribunal de Contas e na Defensoria Pública ” deveriam atuar de forma independente. Mas, no Brasil, e especialmente em São Luís, não é assim que funciona.
A Prefeitura de São Luís, há mais de 30 anos comandada pelo PDT, usurpa claramente atribuições que deveriam ser exercidas pelos outros Poderes. Distribuindo cargos, favores e verbas públicas, o prefeito Edivaldo Júnior mantém em rédeas curtas os vereadores de sua base na Câmara. E assim o Parlamento passa a ser um “puxadinho” do Palácio de La Ravardière, uma espécie de cartório que transforma em lei as vontades do prefeito.
A relação promíscua ficou mais escancarada depois que um pedido de impeachment contra o chefe do executivo foi protocolado na Casa, por um agente externo. Preocupado com a avalanche de denúncias contra a gestão pedetista que podem chegar ao legislativo e na tentativa desesperada de defender o Poder Executivo, o presidente da Câmara, Osmar Filho, resolveu se resguardar: publicou uma resolução com a composição das comissões permanentes da Casa, porém, deixou de fora da titularidade dos colegiados vereadores críticos, oposicionistas e independentes. O problema é que o anúncio criou uma guerra e o clima tende a esquentar nos próximos dias.
Esse foi apenas um dos sucessivos equívocos cometidos por Osmar Filho. Nos bastidores, embora ainda não seja externada publicamente, a insatisfação já é visível.
As comissões temáticas atuam na emissão de pareceres e outras atividades típicas do poder legislante. A divulgação da composição dos colegiados evidenciou, de forma exacerbada, o individualismo e o lado que Osmar representa. Já tem vereador alegando que os movimentos do presidente poderão levá-lo a chamada “morte política”. Explica-se. Edivaldo é um cadáver político, em putrefação, à espera do dia 31 de dezembro de 2020 para ser enterrado.
No entanto, para evitar o ‘funeral’ do cadáver político, Osmar resolveu levar para o parlamento o mal cheiro que a gestão pedetista exala a cada dia com mais potência. Temendo ‘morrerem abraçados’ ao prefeito, alguns vereadores resolveram reagir e cobram a cada dia a independência do legislativo, que acabou se perdendo a partir do momento em que o vereador pedetista assumiu o comando da Casa
Na opinião destes parlamentares foi um erro primário do chefe do legislativo, justamente fruto da inexperiência, depois de retardar a montagem e anúncio das comissões por mais de 120 dias, deixar para fazer tal comunicado em meio a um fogo cruzado, acirrando a situação de instabilidade, digo, dois dias depois de ser protocolado na Câmara Municipal o primeiro de 12 pedidos de impeachment contra aquele que ele tanto quer proteger, o prefeito Edvaldo.
O primeiro a discorrer sobre o tema e fazer duras críticas foi o ex-presidente da Casa e atual vice- vereador Astro de Ogum. “Eu só queria perguntar os critérios que foram usados para a escolha dessas comissões, se foi através de reunião da Mesa Diretora, porque faço parte, e não participei. Estou percebendo que foi uma coisa premeditada, orquestrada, e por este motivo estou retirando o meu nome de todas as comissões que fui incluído, sendo que vou cobrar da presidência da Casa.
O decano lembrou que houve uma reunião para tratar sobre o tema, e nada do que fora deliberado pelo colegiado foi atendido. “Essa casa precisa ter respeito. Tenho aguentado certas coisas, mas tem hora que não da para se ficar calado em hipótese alguma. Isso aqui não é um curral. Isso aqui não tem dono. A Casa é dos vereadores. Osmar manda lá na casa dele. Quero deixar claro que não faço questão de nenhuma comissão, porém exijo respeito para mim e todos os demais vereadores”, finalizou
Posicionamento igual foi adotado pelo também ex-presidente – vereador Francisco Carvalho, que seguiu o mesmo caminho, pedindo a exclusão do seu nome de todas as comissões em que foi incluído. Tal indignação foi ratificada, ainda, pelos vereadores Marquinhos (DEM) e Cézar Bombeiro (PSD).
“Eu só queria externar, e falar ao vereador Osmar que aqui ninguém é menino, trouxa ou besta a ponto de não entender uma manobra sendo trabalhada na montagem dessas comissões. O vereador Osmar está cometendo um grande erro, que é o de subestimar as pessoas. Um homem inteligente não pode subestimar ninguém”, disse Marquinhos. Ainda segundo o parlamentar, na reunião coletiva realizada para deliberar sobre o tema, ficou definido que cada vereador iria escolher até três das comissões que queria integrar, o que foi feito, contudo não foi respeitado.
“Todos nós sabemos que foi tudo pensando. Tirou-se um grupo e as comissões mais importantes foi enxertado de pessoas de alta confiança do presidente para ficar na presidência das comissões. Queria dizer isso para o vereador Osmar que é um rapaz novo, jovem e tem tudo para crescer e ter um futuro brilhante, apenas que precisa entender que não pode se subestimar ninguém. Não quero ter que subir nessa tribuna e evidenciar o meu arrependimento de tê-lo eleito presidente, mas se preciso irei fazer isso sim”, finalizou.