Por Steffano Silva Nunes
Eduardo Braide é o novo prefeito de São Luís. Está de parabéns. Fez uma campanha magistral. Conseguiu expandir os horizontes da sua candidatura além do seu grupo político e mostrou a amplitude de um verdadeiro líder. Equilibrado e coerente caiu no gosto popular de uma tal forma que ficou muito pouco a ser criticado por seus adversários, pois tiveram que se limitar a enxergar apoiadores do Bolsonaro entre os seus eleitores, quando do outro lado estavam tanto o atual quanto o ex-partido dos filhos do Bolsonaro: o PSL e o Republicanos. O estilo de Braide mostra que ele deve seguir essa tendência do diálogo com seus aliados para vencer os desafios colocados para a nossa capital, São Luís do Maranhão. Essa é a fórmula do sucesso na política e o futuro prefeito já mostrou que entende muito de humildade e diálogo.
O outro candidato do segundo turno: Duarte Júnior, talvez tenha pecado pelo excesso de midiatismo. Surfar em porta de ônibus pode até parecer corajoso e viril, mas ao mesmo tempo assusta os eleitores que se referenciam pelo bom senso e pelo equilíbrio. A meu ver, Duarte só chegou tão longe nessa eleição graças ao apoio discreto e maduro do vice-governador Carlos Brandão, que deu uma derrapada no finalzinho da campanha com um discurso em tom autoritário direcionado aos aliados do governo estadual que apoiaram Braide. Mas Brandão teve sim o mérito de apoiar e acreditar no Duarte quando ninguém ainda acreditava.
O grande derrotado desse pleito é o governador Flávio Dino. Não só pela derrota da eleição com o candidato que ele apoiou de forma tão explícita como jamais qualquer governador apoiou na história da nossa ilha do amor. Mas, principalmente, por que está sendo derrotado o seu modo de fazer política. Um governador pode muito, mas não pode tudo. Por maior que seja o número de cargos comissionados, eles não são suficientes para superar a vontade popular. Ele não é o primeiro líder a se inebriar com o poder e achar que tem uma ligação direta com o povo e não precisa mais ouvir amigos e aliados. As derrotas em São Luís, Imperatriz, Caxias, Barra do Corda e a redução em mais da metade do número de prefeituras do PCdoB no Maranhão, reprovam a condução política do governador e lançam ao espaço suas pretensões nacionais.
As cenas de Flávio Dino passeando no domingo, ao lado do Duarte, e sentados em um banco de praça na frente da prefeitura, fizeram lembrar o episódio da eleição de São Paulo em 1985, quando Fernando Henrique Cardoso, apontado como vencedor pelas pesquisas, sentou na cadeira de prefeito antes da hora e perdeu a eleição. Um simples passeio com uma mensagem profunda. Não haviam aliados, havia somente um governador que ineditamente e sozinho tentava mostrar que a força da sua imagem era suficiente para vencer uma eleição. Não foi.
Uma vitória com a diferença de dois dígitos, 11,06%, contra a máquina do estado, assegura a legitimidade do novo prefeito e sinaliza que é o momento do governador calçar as “sandálias da humildade”, a começar, parabenizando formalmente o eleito, recompondo a sua base e retornando ao começo, dialogando com a militância do próprio partido que o acolheu quando ele ainda não tinha nenhum poder. Precisa dar menos ouvidos a Maquiavel e Sun Tzu e dedicar mais atenção a Sócrates: “Conhece a ti mesmo”. O povo é soberano nas suas escolhas e a ilha de São Luís se mantém rebelde e não se curva a chapa branca e ao voto de cabresto. Mas fica uma alerta inequívoco de que, assim como a ilha, o estado todo também pode se rebelar.