A tragédia social que há muito existe no País estava longe dos olhos das autoridades, sempre fechadas em gabinetes, e de boa parte da população brasileira. Com a pandemia, o caos ganhou destaque na vitrine do cotidiano do Brasil, com quase 20 milhões de pessoas enfrentando insegurança alimentar. Uma porção desse contingente está abaixo da linha da miséria.
Após seguidos meses negando a crise sanitária, o presidente da República passou a aceitar a dura realidade da pandemia – talvez esteja encenando –, sem deixar de reforçar o discurso sobre a retomada da economia. Não há como retomar a economia da maneira como prega o presidente se não houver vacinação em massa. Como o governo derrapa nas negociações para a compra de vacinas contra Covid-19, o que se deve esperar é um aumento do número de mortes e o avanço do cenário de miséria.
Enquanto permanecem encasteladas em Brasília, as autoridades federais, de um modo geral, perdem muito tempo discutindo a retomada do pagamento do auxílio emergencial, cuja segunda rodada terminou em dezembro de 2020. De lá para cá, a popularidade de Jair Bolsonaro despencou e a miséria chegou às alturas. Nesses quase cem dias em que discutiu-se o pagamento de nova rodada do benefício, os brasileiros miseráveis foram obrigados a lutar contra a fome. Como disse o sociólogo Betinho, “quem tem fome tem pressa”. Três meses é uma eternidade para quem não tem o que comer.
A insensibilidade do governo federal em relação ao auxílio deveria ser considerada crime contra a humanidade, já que discurso oficial não enche barriga. Entre morrer de fome e correr o risco de tombar diante do novo coronavírus, os pobres e miseráveis do Brasil preferem a segunda opção. Preocupo-me verdadeiramente com cada brasileiro que encontra-se em situação tão aviltante, mas perco o sono quando penso nos meus conterrâneos maranhenses que lutam de maneira incessante para escapar da miséria. E isso não é de hoje!
Se antes da pandemia o Maranhão tinha um bolsão de miséria com aproximadamente 1 milhão de pessoas, hoje esse número dobrou, talvez tenha triplicado. Considerando que o Maranhão tem pouco mais de 6 milhões de habitantes, significa que metade da população do estado tem de lutar dia após dia contra a miséria, a fome, as agruras, a degradação humana. É inaceitável que o governo federal demore tanto tempo para decidir salvar os brasileiros mais pobres, que como qualquer outro também têm direito a uma vida digna, sem percalços.
Nós, brasileiros, em especial os maranhenses, não podemos ficar de braços cruzados enquanto milhões são cercados pela fome. É preciso fazer algo de maneira urgente, antes que seja tarde demais. Grandes empresas e conglomerados passaram a controlar a comercialização de produtos essenciais e alimentos, inviabilizando a sobrevivência de pequenos negócios. Esses últimos, por sua vez, compram produtos dos primeiros, revendendo-os com preço muito maior do que a média praticada pelo mercado. Não há como a roda da economia girar nesse modelo marcado pela covardia mercantil.
Abordo esse tema porque vejo essa selvageria no meu estado, o Maranhão, onde a miséria se alastra de maneira perigosa e sem cerimônia, assim como faz o coronavírus. E isso por certo se repete em várias partes do Brasil. Novas parcelas do auxílio emergencial, que vão de R$ 150 a R$ 250, começarão a ser pagas em breve e por quatro meses. Como se até lá a vacinação de todos os brasileiros tivesse concluída e a economia a pleno vapor.
Enquanto não houver vacina em quantidade suficiente para imunizar dois terços da população, falar em retomada da economia é irresponsabilidade discursiva, como mencionei acima. Não havendo retomada econômica, a miséria há de reinar absoluta em milhões de lares Brasil afora. Não se pode compactuar com esse cenário de caos generalizado. Cada brasileiro, de maneira indistinta, é digno de respeito e tem direito a uma vida em que a fome não seja vilã. O Brasil precisa reagir com rapidez, o Maranhão também!