Estado de São Paulo tem 187 casos confirmados a cada 100 mil habitantes enquanto Espanha tinha 166 quando determinou o início do lockdown. Isolamento social na capital subiu 1,8 pontos percentuais com a antecipação de feriados municipais, mas governo de SP não cogita lockdown.
A taxa de casos e de mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes é maior em São Paulo atualmente do que a registrada na Espanha quando o país decretou medidas de lockdown, expressão em inglês que, na tradução literal, significa confinamento ou fechamento total. Embora não tenha uma definição única, o lockdown é, na prática, a medida mais radical imposta por governos para que haja distanciamento social e controle dos casos de coronavírus.
De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (25), São Paulo tem 187 casos confirmados de coronavírus a cada 100 mil habitantes, segundo a Fundação Seade, e cerca de 13,9 mortes a cada grupo de 100 mil pessoas.
Já a Espanha tinha 166 casos por 100 mil habitantes e 13,76 mortes por 100 mil habitantes no dia 29 de março, quando decretou a restrição de circulação de pessoas em todo o país.
O estado de São Paulo já contabiliza 83.625 mil casos confirmados da doença e 6.220 mortes provocadas pelo novo coronavírus. A população do estado é de 44.607.654 habitantes, segundo a Fundação Seade, número similar à da Espanha, que tem 46 milhões de habitantes, de acordo com o Gabinete de Estatísticas da União Europeia. Em 29 de março, quando decretou o lockdown, a Espanha contava 78.797 casos confirmados de Covid-19 e 6.528 mortes.
Apesar da taxa similar, o número de novos óbitos registrados por dia na Espanha era maior do que o verificado atualmente no estado de São Paulo. Na última semana, o estado teve, em média, 184 mortes confirmadas por Covid-19 por dia, com pico de 324 mortes confirmadas em 24h na terça-feira (19). Já a Espanha teve 838 mortes confirmadas em 24 horas no dia em que foi determinado o lockdown no país.
As mortes por dia caíram drasticamente na Espanha após a adoção do lockdown, que já começa a ser relaxado no país. O Ministério da Saúde espanhol divulgou neste domingo (24) que foram registradas 70 novos óbitos causados pelo coronavírus em todo o país. Foi o oitavo dia consecutivo em que o número de mortes pela doença no ficou abaixo de 100 em toda a Espanha.
Nesta segunda-feira (25), o governador de São Paulo, João Doria, negou, mais uma vez, a adoção de lockdown no estado. Em entrevista à GloboNews, Doria disse que é possível que, a partir do dia 1º de junho, seja adotada uma quarentena heterogênea no estado, com medidas mais restritivas ou permissivas de acordo com os índices de cada região paulista.
“Neste momento não há perspectiva de lockdown imediata em SP, mas o protocolo existe. Neste exato momento nós não vamos decretar o lockdown nem na capital nem em qualquer outro município”, disse João Doria.
“Nós teremos uma nova quarentena [em junho]. Mas será uma quarentena inteligente, porque levará em consideração toda a regionalização de São Paulo, do interior, da capital e da região metropolitana, do litoral. A decisão não será homogênea. Até agora ela foi homogênea em todo o estado porque ela precisava ser. Agora, nós temos a condição de fazê-la heterogênea, seguindo as orientações do comitê de saúde”, declarou o governador de SP sobre a renovação da quarentena no estado, a partir de 1 de junho.
Pico pode virar platô sem lockdown
Além das taxas a cada 100 mil habitantes, outros critérios adotados para avaliar a necessidade de lockdown são indicadores como a taxa de ocupação de hospitais e o total de mortes confirmadas a cada dia. Este último índice é importante porque mostra se a epidemia está se propagando de maneira mais ou menos acelerada.
Pesquisadores que acompanham a evolução do novo coronavírus no estado de São Paulo alertam que a curva de mortes causadas pela doença, que chegou a entrar em processo de achatamento, teve forte aceleração nos últimos dias.
Os cientistas admitem a possibilidade de que o vírus não cause um pico de contaminação, mas sim um platô, como os especialistas classificam uma situação de pico contínuo, que demora a cair. Nesse caso, o número de casos e mortes por dia se mantém sempre alto, por várias semanas seguidas, e a capacidade da rede hospitalar se esgota, levando ao colapso do sistema.
A imunologista Ester Sabino, que coordenou o primeiro sequenciamento genético do novo coronavírus no Brasil, avalia que a situação de São Paulo pode ser diferente daquela verificada em países como a China e a Coreia do Sul, que já tiveram uma primeira onda de casos e mortes por Covid-19.
Ela cita esses países como exemplos de locais que tiveram um pico de casos seguido por uma rápida diminuição, porque tomaram medidas drásticas para conter a propagação do vírus.
“Aqui a gente seguramente vai ter novas ondas, e eu não sei nem se vamos poder chamar de ondas, porque pode ser que esse vírus consiga ficar mais num formato de platô, que nunca chegue a terminar a primeira onda”, avalia Sabino.
Já a Itália e a Espanha são exemplos de países que, segundo a imunologista, ” só conseguiram fazer parar de subir [a curva do Covid-19] com o lockdown”.
Feriado para aumentar isolamento
O índice de isolamento social na cidade de São Paulo subiu entre 1 e 3 pontos percentuais com a antecipação de dois feriados municipais na semana passada. O objetivo da antecipação era conter a propagação do novo coronavírus, aumentando o isolamento social.
Para tentar elevar o índice, a cidade de São Paulo adiantou os feriados municipais de Corpus Christi (11 de junho) e da Consciência Negra (20 de novembro) para a última quarta (20) e quinta (21).
Na sexta-feira (22), foi declarado ponto facultativo na cidade. Já o governo estadual antecipou o feriado de 9 de julho para esta segunda-feira (25).
Isolamento social na cidade de SP em feriado prolongado
Dia da semana | Quarta-feira | Quinta-feira | Sexta-feira | Sábado | Domingo | Média |
Semana anterior ao feriado: | 48% | 49% | 48% | 52% | 56% | 50,6% |
Semana do feriado antecipado: | 51% | 52% | 49% | 53% | 57% | 52,4% |
Variação (em pontos percentuais): | 3 | 3 | 1 | 1 | 1 | 1,8 |
Fonte: Governo do estado de São Paulo
Apesar das medidas, o índice no feriado prolongado na capital ficou, em média, 1,8 pontos percentuais acima do registrado na semana anterior, em que não houve feriado.
A taxa só superou 55%, valor citado pelo governador João Doria como mínimo para conter a propagação do novo coronavírus, em um domingo. Autoridades de saúde do próprio governo, no entanto, afirmam que o ideal é que a taxa seja de 70%.
Na manhã desta segunda-feira (25), por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo disse avaliar positivamente os resultados obtidos com a antecipação dos feriados.
De acordo com a gestão municipal, o número de veículos nas ruas e o de passageiros nos ônibus “foram reduzidos de maneira significativa na quarta e na quinta-feira.”
Adesão na Grande São Paulo
Quando foi anunciada a antecipação de feriados municipais na capital, o objetivo da prefeitura era que outras cidades da Grande São Paulo também adiantassem seus feriados para alinhar o calendário em toda a região metropolitana.
Segundo o governo estadual, foi feita uma recomendação para que prefeituras da Grande São Paulo antecipassem feriados municipais para os dias 26 e 27 de maio.
“Nós vamos recomendar que prefeitos de outros municípios da região metropolitana, e do interior do estado de São Paulo, possam igualmente avaliar com suas câmaras municipais a antecipação de feriados municipais para os dias que sucedem a esses feriados, ou seja, dias 26 e 27 de maio, quarta e quinta-feira da próxima semana”, disse João Doria.
No entanto, pelo menos 11 municípios da região não aderiram à antecipação de feriados. Entre as cidades optaram por não antecipar nenhum dos feriados municipais estão Cajamar, Guarulhos, Itapevi, Jandira, Osasco, Carapicuíba, Santana de Parnaíba, Barueri, Pirapora do Bom Jesus e Mairiporã.
Outras cidades tiveram feriado apenas na sexta (22), quando foi ponto facultativo na capital. É o caso dos municípios do Grande ABC, que optaram pela antecipação do feriado de Corpus Christi. Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que fazem parte do consórcio, adotaram esse modelo.
Por Patrícia Figueiredo, G1 SP