Pela primeira vez, cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore (LLNL), na Califórnia (EUA), conseguiram criar uma cápsula de fusão nuclear que produziu mais energia do que aquela consumida. O anúncio histórico mostra um importante avanço no que promete ser a “energia do futuro”. No entanto, o caminho ainda é longo.
O que é? Em síntese, a fusão nuclear é o processo no qual dois ou mais núcleos atômicos se juntam e formam um outro núcleo de maior número atômico. Apesar de gastar muita energia para ser produzida, se bem concluída a tecnologia pode gerar uma quantidade muito maior que a gasta.
- O Sol é abastecido por energia de fusão nuclear entre átomos de hélio e hidrogênio.
- A reação que os cientistas produziram em laboratório é semelhante, mas em uma escala muito menor
- Se bem-sucedida, a tecnologia pode criar uma fonte quase ilimitada de energia limpa
A fusão nuclear é o oposto da fissão nuclear, usada nas usinas:
- A fusão força átomos leves a ficarem juntos, liberando muita energia
- Na fissão, os átomos pesados se separam. Gerando detritos
O experimento de fusão nuclear
Como foi feito? No experimento na Califórnia, uma pequena quantidade de hidrogênio foi colocada em uma cápsula (do tamanho de um pequeno botão). Um laser então aqueceu a cápsula a uma temperatura absurda de 100 milhões de graus Celsius.
Isso é mais quente que o centro do Sol. Esse aquecimento comprimiu a cápsula a mais de 100 bilhões de vezes a atmosfera da Terra. Reação que obrigou os átomos a se fundirem e liberarem energia.
Por que é importante? Essa foi a primeira vez que uma reação de fusão nuclear liberou mais energia do que a gasta para gerar o experimento, o que é um avanço importante no setor.
No entanto, ainda falta um longo caminho. Em entrevista ao Olhar Digital, o físico Vinícius Njaim Duarte, do Laboratório de Física de Plasmas de Princeton, nos Estados Unidos, explicou que o resultado já era esperado por quem acompanha o setor e que chega depois de muito estudo.
“A gente já teve outros experimentos antes que chegaram perto dos 90% de eficiência, na própria LLNL. Então os 100% é algo que a gente estava esperando”
Vinícius Njaim Duarte
Apesar do avanço, ainda falta um longo caminho. A amostra testada ainda é pequena e para produzir energia em larga escala é preciso muito mais. “Se for considerar globalmente o que aconteceu no laboratório a eficiência foi de 1%”, explica o físico.
Energia limpa e sem detritos
Como a fusão nuclear é limpa? Segundo o especialista, a fusão nuclear não deve poluir o meio ambiente diretamente, como ocorre com a fissão:
- A fusão nuclear não gera detritos
- Detritos oriundos da fissão são perigosos e podem durar para sempre
- Esses detritos podem causar danos aos humanos, como vimos, por exemplo, no desastre de Fukushima
Duarte ressalta que o experimento é um avanço gigante na área e que o futuro é promissor.
“O marco é real. Eu diria que o resultado é encorajador”
Vinícius Njaim Duarte
Para utilizar esse tipo de energia globalmente, ainda falta bastante. Um grande empecilho é o custo, já que desenvolver e gerar essa energia pode custar bilhões de dólares.
Além disso, os investimentos em energia limpa estão sofrendo impactos com a guerra na Ucrânia. No entanto, os primeiros passos já foram dados e os problemas ambientais causados pelo uso de energia não-limpa colocam a necessidade da fusão nuclear ainda mais em evidência.
Fonte: Olhar Digital