No Dia Mundial do Câncer, celebrado nesta terça-feira (4), cientistas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) fazem um alerta sobre a crescente disseminação de informações falsas relacionadas à doença. Um artigo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia aponta os riscos da chamada “infodemia do câncer”, fenômeno caracterizado pela rápida circulação de desinformação, que pode comprometer diagnósticos e atrasar tratamentos.
A infodemia — termo validado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — se refere ao aumento abrupto da disseminação de informações sobre saúde, sejam elas verdadeiras ou não. O pesquisador Fernando Lima, um dos autores do artigo, destaca que as redes sociais dificultam a distinção entre conteúdos baseados em evidências científicas e boatos sem comprovação. “Isso pode atrapalhar as tomadas de decisão do indivíduo sobre seu próprio cuidado, atrasando diagnósticos e complicando os casos”, explica.
Entre os mitos mais propagados nas redes sociais está a falsa crença de que a vacina contra o HPV, essencial para prevenir o câncer de colo do útero, poderia aumentar a incidência da doença. Outro engano amplamente divulgado é sobre a segurança dos cigarros eletrônicos, que, segundo o Inca, não têm qualquer comprovação de serem uma alternativa segura ao cigarro comum.
Outro exemplo citado pela pesquisadora Telma de Almeida Souza é o uso da graviola como suposto tratamento para o câncer. “O tempo é primordial para o paciente oncológico. Quando ele perde tempo com tratamentos sem eficácia comprovada, seu quadro pode se agravar”, alerta.
Os pesquisadores também chamam atenção para o papel das plataformas digitais na amplificação dessas falsas informações. Segundo o artigo, as redes sociais utilizam algoritmos que priorizam conteúdos sensacionalistas e enganosos para aumentar o engajamento dos usuários, um mecanismo que faz parte do chamado “capitalismo de vigilância”.
“A viralização de informações não verificadas dificulta que o cidadão comum diferencie fatos de fake news. Esse pico de desinformação pode gerar grande confusão na sociedade”, afirma Fernando Lima. Para combater esse problema, os cientistas defendem a necessidade de monitoramento contínuo e respostas rápidas a boatos, além de regulamentação e responsabilização das empresas de tecnologia.
O Inca reforça que, para evitar cair em fake news sobre o câncer, é fundamental buscar informações em fontes confiáveis, como o próprio instituto e o Ministério da Saúde.