A seleção brasileira de canoagem slalom fez história neste domingo (04.08) nos Jogos Pan-Americanos de Lima. A equipe, 100% apoiada pelo Programa Bolsa Atleta, conquistou cinco medalhas no Rio Cañete, em Lunahuaná. Foram quatro ouros e um bronze. Essa já é a melhor campanha do país, já que em Toronto, estreia do slalom na competição, o Brasil subiu cinco vezes no pódio, com um ouro, três pratas e um bronze.
Ana Sátila e Pedro Gonçalves foram os destaques do dia. Juntos, eles faturam os quatros ouros: C1 feminino, K1 masculino e Canoagem Slalom Extremo, feminino e masculino. Felipe Borges fechou o C1 masculino em terceiro lugar.
Na prova C1 feminina, Sátila sobrou. Ela terminou a descida com com o tempos de 95s35, sete segundos à frente da segunda colocada, a canadense Lois Betterigde (102.95). O bronze ficou com a americana Michaela Corcoran (107.73).
“O Pan é muito diferente de outras competiçãos. Eu acabei de competir no Mundial há duas semanas e não senti a pressão que senti aqui, de estar representando meu país, de ter as cores do país no peito”, disse a atleta brasileira. “Para mim foi mais um grande desafio. E eu tentei fazer o melhor. Tentei ficar no meu plano desde o início, não arriscar nada e assegurar a medalha. Estou muito, muito contente com o resultado”, comemorou a atleta, que também integra o Programa de Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas.
Segundo ela, o maior desafio no Peru foi o percurso, que ela considerou complicado em função da profundidade. “O percurso era complicado porque era muito raso. Isso significa que qualquer deslize, como afundar uns centímetros a mais a pá, eu poderia tocar uma pedra e perder o remo e pegar uma penalidade grande. Então, desde o início, o desafio maior era seguir o plano que tinha decidido antes com meu técnico. Felizmente consegui fazer uma descida boa e sem penalidades”, avaliou.
Já na Canoagem Extremo, a atleta superou a americana Evy Leibfarth, que ficou em segundo, e a mexicana Sofia Reinoso, que levou o bronze. “Esse dia vai ficar guardado na memória para o resto da minha vida”, disse. “Terminar essa competição com duas medalhas é realmente inesquecível. Independentemente de resultado individual, o que valia realmente aqui era o Brasil e pude ver que cada atleta estava lutando por isso”, destacou.
O desempenho em Lima é resultado de uma rotina exaustiva de treino, após o desempenho registrado na última edição do Pan-Americano, realizada em 2015 no Canadá, quando ela conquistou ouro na canoa e uma prata no K1. “Eu era favorita nas duas categorias e acabei ganhando só um ouro e fiquei com a prata no K1. Isso me abalou. Então, desde então, a cada dia quando acordo até quando vou dormir eu tento focar só na minha vida como atleta e dar o melhor a cada treino”, destacou. “O desafio desse Pan foi manter a cabeça no lugar e a mente fria e continuar fazendo o que sempre fiz desde criança”, completou.
Volta por cima
O Pan de Lima também teve sabor especial para o canoísta Pedro Gonçalves, mais conhecido como Pepê. Com o tempo de 85.81s, ele deixou para trás o argentino Sebastian Rossi (86.23) e o canadense Keenan Simpson (88.45) na prova de K1 masculina e afastou o fantasma de Toronto 2015. “Quatro anos atrás o juiz deu uma penalidade que não tive e perdi o ouro para o americano. Hoje honrei o favoritismo, honrei a bandeira brasileira e saí daqui com um ouro”, disse, emocionado.
Além de recuperar o ouro perdido em Toronto, o atleta natural Ipaussu-SP tinha como meta superar a última temporada, que considerou ruim. “No esporte olímpico é matar um leão a cada dia e a gente está disposto a isso. Chegar até aqui não é fácil. Nenhum esporte é fácil. É lógico que a gente tem mais derrota do que vitória”, avaliou. “Eu venho de um ano não tão bom. Agora estou conseguindo me reencontrar. Tive uma lesão dois dias atrás [nas costas durante o treino] e fiquei preocupado, mas consegui colocar tudo na água”, completou.
No Extremo, Pepê superou o americano Joshua Joseph, que ficou com a prata, e o canadense Keenan Simpson, que levou o bronze. “Tirei um peso das costas. Nosso trabalho foi feito e muito bem feito. Cem por cento de aproveitamento. Sou o primeiro campeão do cross no Pan-Americano”, celebrou.
Agora, segundo ele, a meta é mirar nos Jogos Olímpicos do próximo ano. “Saí de casa, aos 16 anos, com as roupas numa caixa de papelão. Mas esse ainda não é meu sonho, é uma parte dele. Meu sonho é primeiro poder ajudar meu esporte, elevar o nível do esporte. A gente tem um ano para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Sexto lugar eu já sei como é, chegar na final olímpica inédita, eu sei como é. Eu vou lutar com unhas e dentes para gente chegar num pódio olímpico, que é meu verdadeiro sonho”, antecipou.
Outros resultados
Separado do ponto mais alto do pódio por apenas 73 milésimos, Felipe Borges levou o bronze na prova C1 masculina, fechando em 91s39s. O americano Zachary Lokken (90s66) foi o campeão da prova e, com o tempo de 90s80, o argentino Sebastian Rossi garantiu a prata. “Eu estava com uma expectativa muito grande de trazer o ouro. Não foi dessa vez. Foi por muito pouco. Agora é erguer a cabeça e focar no Mundial e trazer a vaga olímpica”, disse o atleta, bronze nos Jogos Pan-americanos Toronto 2015.
Em sua primeira participação em Jogos Pan-Americanos, a atleta Omira Estácia chegou muito perto de besliscar uma prata no K1 feminino. A brasileira marcou 102s74, atrás apenas da americana Evy Leibfarth (93s70). Omira, contudo, teve uma penalidade e, com isso, fechou em último lugar, com 150s74. O pódio foi fechado pela argentina Nadia Riquelme (103s70), que ficou com a prata, e a mexicana Sofia Reinoso (112s20), bronze.
Patrocínio individual como pilar
A canoagem slalom é uma das dez modalidades do Pan em que 100% dos atletas inscritos são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual nesses atletas é de cerca de R$ 402,6 mil. Três deles na categoria pódio, a mais alta do programa, voltada para atletas entre os 20 melhores do ranking mundial. Com 26 atletas nacionais da modalidade contemplados atualmente, o investimento anual é da ordem de R$ 723.4 mil.
Para Sátila, o resultado desse investimento pode ser medido com o desempenho dos atletas na competição. “A gente teve um grande apoio de alguns patrocinadores que realmente levaram a canoagem a outro patamar, nos dando a oportunidade de conseguir viajar e ganhar muita experiência. O Bolsa Atleta nos dá a oportunidade de conseguir comprar o equipamento que precisamos e assim chegar numa competição internacional no nível dos europeus e conseguir resultados”, destacou.
A opinião é compartilhada por Pepê. De acordo com ele, com os recursos ele pode se preparar em alto nível, com uma condição adequada de treinamento. “Se não fosse o Bolsa Atleta hoje eu não teria condições de estar na água treinando e competindo. Graças ao Bolsa Atleta eu posso treinar, competir em alto nível, ajudar minha família, ter uma condição boa de treino. Eu só queria que esse programa não acabasse nunca e continuasse porque ele é o verdadeiro pilar dos atletas brasileiros hoje.
Ao todo, 333 dos 485 atletas brasileiros inscritos no Pan de Lima fazem parte do Bolsa Atleta. O investimento do programa federal no grupo é de R$ 14,6 milhões ao ano. Há um equilíbrio quase perfeito de gênero, com 166 homens e 167 mulheres na lista.
Em termos percentuais, 70% dos atletas de modalidades que atualmente figuram no programa dos Jogos Olímpicos recebem o incentivo da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Um contingente expressivo, de 68, faz parte da categoria mais alta do programa, a Bolsa Pódio, voltada para esportistas que figuram entre os 20 melhores do mundo em suas especialidades. Os outros estão nas categorias olímpica (83), internacional (95) e nacional (87).
“O Bolsa Atleta é muito importante para a gente. A canoagem é um esporte caro. Um barco custa cerca de R$ 8 mil. O Bolsa Atleta vem ajudando muito. E isso traz essa medalha”, finalizou Felipe Borges.
Cynthia Ribeiro, de Lima, Peru – rededoesporte.gov.br