Após cumprirem um papel determinante nas eleições de 2018, as redes sociais terão, sobretudo no cenário da pandemia de covid-19, ainda mais importância nos pleitos de âmbito municipal em todo o país este ano.
Especialistas avaliaram ao R7 a influência dos meios de comunicação digitais num contexto no qual os comícios e outros eventos oficiais de partidos e candidatos em espaços físicos não devem ter a mesma adesão – por parte dos políticos ou dos eleitores –, devido às medidas sanitárias de combate ao novo coronavírus.
Cientista política e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Rosemary Segurado observa que, “sem a menor dúvida”, as redes sociais terão função ainda mais definitiva nestas eleições.
“Já foram importantes na última eleição. Foi uma eleição paradigmática sob o uso das redes, mas era num contexto sem pandemia. Agora, só as redes podem fazer o candidato chegar [aos eleitores]”, aponta a cientista.
O professor Glauco Peres da Silva, do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo) avalia o cenário de forma similar à de Rosemary. “O ‘boca a boca’ será pelas próprias redes. Os grupos de WhatsApp, por exemplo, que faziam as campanhas tomarem outra cara há dois anos, agora parecem ser o recurso principal”, diz.
Com a campanha nas ruas – tradicional nas eleições pelo Brasil – podendo ser deixada de lado, o professor considera que os candidatos deverão usar de criatividade para driblar essa distância imposta pela pandemia. Algo que, segundo ele, pode ser bem aproveitado:
“A internet facilita a formação de nichos: você não precisa falar para todo o público ao mesmo tempo, mas pode falar para grupo particulares de eleitores, com mensagens específicas para eles. Saber adequar a mensagem a esses grupos e não uma para todo mundo me parece ser a chave principalmente para cidades grandes, onde a divisão do eleitorado é mais clara”.
Rosemary Segurando pontua que, sobretudo no atual contexto, as estratégias de campanha terão peso ainda mais significativo.
Se sem as campanhas em espaço físico o alcance dos candidatos aos diferentes perfis de eleitorado diminui, Segurado acredita que uma aposta pode ser uma espécie de ‘efeito viral’, fazendo com que o eleitor se engaje a ponto de espalhar ideias e programas de governo de um determinado candidato.
“Se é essa a tendência que vai marcar o processo eleitoral [de 2020], tem que explorar como ampliar a possibilidade do candidato chegar mais perto do maior número de eleitores”, explica.
Assunto amplamente debatido nas eleições de 2018 e também posteriormente, as fake news devem vir com maior força em um cenário onde a internet será ainda mais utilizada pelas campanhas políticas.
“As redes sociais são potencialmente um espaço importantíssimo para informar sobre o processo eleitoral e outros temas. Mas é importante que se estabeleça mínimos critérios de se checar se essa informação é correta, adequada”, aponta Rosemary Segurado.
Glauco Pires acredita que o assunto será amplamente debatido e, desta vez, as redes sociais estarão mais atentas e preocupadas com a veiculação de fake news, chegando inclusive a restringir publicações ou até perfis de candidatos que compartilharem conteúdos falsos.
Neste ponto, a professora discorda: “Não estou muito otimista em relação a isso. Não temos o processo eleitoral oficializado, mas nós já temos fake news tentando candidatos ou pré-candidatos ou partidos, buscando atacar os adversários com desinformação. Tendo a achar que será maior”.
Ciente de que o compartilhamento de notícias falsas se dá por diversos meios digitais, Rosemary aconselha aos eleitores que, ao “recebermos uma informação, temos que ir num grande meio [de comunicação], pesquisar se está correto, para ter os outros lados do mesmo tema, sem confiar cegamente no que está sendo divulgado”.
Fonte: R7.com