O senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado e do Congresso, providenciou um funeral padrão covid-19 para a medida provisória que autorizava o chefão do Ministério da Educação a escolher reitores biônicos para universidades federais durante a pandemia, sem consultar a comunidade acadêmica. Alcolumbre apressou os procedimentos funerários. Passou a MP tóxica no forno crematório e enviou as cinzas para Jair Bolsonaro.
Autor da medida provisória, o ministro Abraham Weintraub, da Educação, parece empenhado em demonstrar que, entre o certo e o errado há sempre espaço para mais erros. Alguns mandatos de reitores vencem em agosto. As universidades se equiparam para escolher substitutos em processos virtuais, por meio de videoconferências. A interferência do MEC não tinha outro propósito senão plantar nas universidades interventores de Weintraub.
O problema é que a Constituição brasileira consagra o princípio da autonomia universitária. O governo já havia tentado subverter essa autonomia por meio de uma outra medida provisória. Que perdeu o prazo de validade porque os parlamentares decidiram ignorá-la. Portanto, Weintraub, autor da nova MP, e Bolsonaro, signatário da peça, sabiam que a reiteração do erro era um flerte com o vexame.
Bolsonaro ainda não percebeu, mas seu governo melhoraria bastante se, de repente, baixasse no Ministério da Educação uma epidemia de ridículo. Mas para que o milagre acontecesse, seria necessário que se abatesse sobre o Planalto um surto de sensatez. Weintraub é mero soldado de Bolsonaro. Comanda o MEC com a lógica marcial de quem supõe que sua prioridade é conduzir uma guerra ideológica. A cada torpedo disparado por Weintraub, o país lamenta a falta que faz um ministro da Educação.
Por Josias de Souza