Por Steffano Silva Nunes
Parabéns a Eduardo Braide (Podemos) e Duarte Júnior (Republicanos) pela vitória na eleição que os leva ao segundo turno. Os dois tem seus méritos nesse processo. Se empenharam e foram inteligentes na construção e condução de suas campanhas, mesmo sem contar com o apoio do governo estadual ou da prefeitura. Foram acusados de serem da base do Bolsonaro, quando na verdade os dois estiveram até pouco tempo gravitando na base da esquerda com o governo estadual. Duarte era filiado no PCdoB e Braide foi líder do governo na assembleia.
Os dois buscaram novos caminhos políticos quando perceberam que o campo da esquerda no Maranhão está subordinado às decisões do governador Flávio Dino, que decide tudo sozinho. Duarte Júnior, em especial, pôde sentir na pele o gosto do “fogo amigo” à medida que crescia nas pesquisas. Foi o mais atacado na reta final. Talvez o espaço do segundo turno não seja suficiente para sarar as feridas.
Estou no PCdoB há 32 anos. Cheguei lá antes do governador e sua turma. Tenho observado que a cada dia deixamos de ser um partido para nos tornarmos apenas uma legenda, aqui no Maranhão. Não há mais debate na militância. Os eventos partidários se tornaram meras solenidades com as mesmas pessoas falando e as demais aplaudindo. O último presidente estadual do partido com histórico de militância, Gerson Pinheiro, um sindicalista negro e pobre, foi “tirado” de forma estranha para dar lugar ao atual governador que na época era deputado. Depois que o governador deixou a presidência, ela não voltou para o Gerson, foi “repassada” a um amigo do governador que havia chegado com ele.
Neste cenário surgiu a candidatura do PCdoB à prefeitura de São Luís. Uma candidatura que nasceu morta. Pois o nome “escolhido”, sabe-se lá como, não tem a cara do partido. Apesar de aparentar ser uma boa figura humana, surgiu na política em um partido de direita, emprestando o nome ao pai que não podia concorrer. O mandato de deputado estadual conquistado aos 22 anos de idade, foi uma herança de família, onde a árvore genealógica está cheia de mandatos na política maranhense. Não tem nada a ver com o PCdoB.
Para a situação ficar pior, perdemos também a eleição em imperatriz, segunda maior cidade do estado, onde havia uma perspectiva de vitória. E para piorar um pouco mais, o atual vice prefeito de São Luís, filiado histórico do PCdoB, não conseguiu sequer se eleger a vereador. A votação foi tão pequena que não se elegeria em nenhum outro partido da mesma forma.
O governador já anunciou, na noite de domingo, que apoiará Duarte Júnior no segundo turno. Não esperou sequer uma reunião partidária de avaliação. Mesmo que a opção seja Duarte, o governador quer continuar tomando as decisões sozinho e ao invés de liderar busca apenas ser seguido e foge das decisões coletivas.
O candidato do PCdoB à prefeitura de São Luís ficou em quarto lugar e sequer ameaçou chegar em terceiro. Um desempenho muito ruim que mostra claramente que a militância não entrou em campo, ficou na arquibancada e cruzou os braços, não aceita mais decisões de cima pra baixo. A população também deu seu recado mostrando que a Ilha Rebelde continua rebelde e não segue candidaturas impostas.
A situação do Maranhão é um alerta para a direção nacional do PCdoB. Tudo pode ser corrigido. É impossível imaginar o nome do governador em um disputa nacional com uma derrota desse tamanho dentro de casa. Está na hora de vermos novos caminhos. Caso contrário, o resultado da eleição, com esse modelo de liderança que temos aqui, pode ser o início do fim.