O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizará, a partir das 10h desta quinta-feira (21), uma videoconferência com os 27 governadores dos estados brasileiros. Bolsonaro comentou à imprensa nos últimos dias que o foco principal da reunião é tratar do socorro do governo federal às finanças de estados e municípios durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O enfrentamento ao vírus, no entanto, também deve ser discutido.
A flexibilização do isolamento social, defendida pelo presidente que alega a necessidade de movimentar a economia do país, é tema de divergência pública entre o presidente e governadores. O Brasil registrou, nesta quarta, o recorde de casos diários (19.951 em 24 horas). Ao todo, já são mais de 291.000 casos e mais de 18.800 mortes.
Antes da videoconferência, Bolsonaro deve se encontrar com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM). A reunião não consta na agenda oficial do presidente.
Maia sugeriu que Bolsonaro sancione o socorro a estados e municípios durante a videoconferência. “Eu falei ao presidente que seria bom uma reunião na hora da sanção. Apesar da divergência do governo federal com alguns estados e municípios, a reunião seria um gesto simbólico importante, estarem todos juntos na mesa e mostrando a importância que esse projeto tem para que estados e municípios possam continuar atendendo a população brasileira”, declarou o presidente da Câmara.
Socorro a estados
O principal assunto da reunião será os vetos que o Planalto pretende adotar no projeto de auxílio financeiro aos estados. O Congresso aprovou o pacote incrementando medidas em dissonância com o governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, então, pediu que trechos fossem vetados. Maia, que incluiu grande parte das mudanças, e Alcolumbre, relator da proposta, manifestaram incômodo com a possibilidade de veto. Ambos deixaram claro ao presidente a chance de o Congresso derrubá-los.Os chefes de poderes, porém, ainda não foram informados acerca de uma data.
A motivação do encontro são os vetos, mas evidentemente insere-se em um contexto maior. Trata-se de mais uma tentativa do presidente de tentar distensionar o ambiente político e sair do isolamento político no combate à pandemia do novo coronavírus.
O clima entre o presidente e os chefes dos estados piorou na pandemia. Bolsonaro passou a culpá-los pela piora na economia, uma vez que a ampla maioria deles adotou medidas restritivas de circulação de pessoas. O cerco se ampliou contra ele depois que o STF determinou que os governadores têm legitimidade para tomar as medidas que acharem melhor. Um dos piores momentos do tensionamento foi no final de março, quando o presidente se reuniu separadamente com governadores por região do país. Na ocasião, ele bateu boca com João Doria.
Reunião prévia de governadores
Para formular os assuntos que desejam tratar com o presidente, 25 dos 27 governadores se reuniram previamente nesta quarta. Ao término da conferência, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deixou claro que pretende indagar Bolsonaro sobre as medidas de enfrentamento ao vírus. Apesar de críticas mútuas sobre o tema, Doria disse esperar uma reunião pacífica
“Fizemos uma reunião com 25 dos 27 governadores. O sentimento de São Paulo e, certamente, posso aqui interpretar, dos demais governadores, é para proteger a vida, obedecer à ciência, respeitar a orientação da medicina e [na quinta-feira] fazermos uma reunião em paz”, disse o governador de São Paulo.
O chefe do Executivo do Ceará, Camilo Santana (PT), manifestou o desejo de que a conversa entre governadores e representantes do governo federal transcorra em clima “respeitoso e proveitoso, em benefício da população”. “Este não deve ser um momento de disputa partidária ou ideológica, mas da união de todos para ações efetivas para o Brasil”, escreveu Santana em sua conta pessoal no Twitter.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), defendeu a importância da troca de informações, principalmente de experiências exitosas. “Este é o caminho. Temos que buscar as experiências dos estados. Neste momento de distanciamento social e atividade econômica paralisada, precisamos ter cientificidade e método para sair da crise”, defendeu Dino na reunião.
No Twitter, Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas, disse que a reunião da manhã serviu para que os governadores “ajustassem a pauta” que pretendem apresentar ao presidente e a seus ministros. “Será uma nova oportunidade para agradecer o apoio federal [ao Amazonas] e reforçar as demandas que ainda temos. A união de esforços é indispensável”, escreveu Lima.
Por Agência Brasil