Por José Sarney
Volto ao tema da moda — que, para a tristeza de todos nós, continua sendo a destruição do meio ambiente —, com as lembranças e recordações de quem viveu um tempo parecido com este, o Brasil como o grande vilão mundial, que toca fogo na Amazônia e mata os índios.
Já disse como reagi a essa campanha, que nada tinha de verdadeira. Reconhecemos a nossa responsabilidade em relação ao desprezo dos governos brasileiros, e aqui não abro exceção, e a desídia em não encarar com a gravidade necessária a preservação deste continente, que é a Bacia Amazônica. Ficamos na retórica e nos esquecemos de agir. Uma coisa é clara e necessária: não podemos fechar os olhos àqueles que ali residem, nem à pobreza que faz parte daquela paisagem.
A consciência desse estado de coisas teve como primeiro governante preocupado com o verdadeiro desafio e a necessidade de enfrentá-lo o Presidente Castello Branco. Ele criou um grupo de trabalho para buscar o desenvolvimento sustentável para a região. Para ter um certo charme nacional, essa comissão — da qual eu fazia parte — se reuniu no navio Rosa da Fonseca, que subiu o Rio Amazonas sem que a floresta tivesse ouvidos para ouvir os debates que travamos dia e noite, examinando todos os aspectos econômicos e sociais que tínhamos a enfrentar.
Quando desembarcamos em Manaus, e meu amigo Arthur César Ferreira Reis nos recebeu, já tínhamos a formatação dos órgãos e a ideia de que a zona franca de Manaus era necessária como centro industrial de tecnologia e de progresso humano, a ser implantada com todos os subsídios necessários.
Outra grande decisão foi a de transformar a SPVEA, o órgão de coordenação regional, bolorento e burocrático, em Sudam, nos mesmos moldes da Sudene, com um conselho administrativo formado pelos governadores da área e representantes dos Ministérios, para coordenar projetos industriais e preservar a floresta, evitando a sua degradação.
Essas decisões, sobretudo a criação da Zona Franca de Manaus, provocou, de logo, uma reação de setores do empresariado paulista, que temeram pela destruição da indústria paulista.
A Zona Franca de Manaus passou a centralizar as ações destinadas ao desenvolvimento da Amazônia. Depois, veio o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FDA, com um volume respeitável de recursos. A indústria eletrônica logo descobriu as vantagens competitivas que passaram a existir e correu para Manaus e lá passou a fabricar os mais sofisticados produtos eletrônicos.
Mas, com pesar, verificamos que esse surto desenvolvimentista ficou muito restrito a Manaus. Até hoje os outros Estados clamam por melhor distribuição de recursos, pois as indústrias não se localizaram em outros lugares, nem criaram os empregos necessários.
Eu, a partir do modelo de Manaus, criei no Amapá a Zona de Livre Comércio de Macapá e Santana e a Zona Franca Verde para construir uma indústria baseada em matéria-prima de produtos locais.
Agora se fala muito no fogo e no problema indígena. Ambos muito graves. Mas não vejo uma palavra sobre o desenvolvimento da região, que respeite a natureza e seja capaz de dar melhores condições de vida à população.