Steffano Silva Nunes
Omar Aziz, senador e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, sem querer, ressuscitou um debate importante da nossa história: os militares na política. Ao se indignar com o depoimento do ex-sargento da aeronáutica e ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias, que acabou recebendo voz de prisão, o presidente da CPI afirmou que o lado bom das forças armadas deveria estar envergonhado com o lado podre dos militares, que são esses envolvidos em falcatruas nos escândalos da pandemia.
A reação do comando das forças armadas, liderados pelo ministério da defesa, foi considerada desproporcional por Omar Aziz, pois deixou a entender que a fala na CPI fazia um ataque a todos os militares, o que não é verdade. Apesar de enfático, o senador foi muito específico, citando até os nomes dos envolvidos nas investigações. Não generalizou. Mas para os dirigentes militares o entendimento foi outro e soltaram nota afirmando que as acusações de Osmar Aziz foram levianas e irresponsáveis.
A reação militar foi tão forte que gerou um efeito contrário aos mesmos, pois choveram declarações de solidariedade ao presidente da CPI e de críticas ao documento que foi entendido como um instrumento intimidatório. Afinal de contas por que os militares se doeram tanto por uma crítica tão pequena? Talvez a reposta esteja no raciocínio do Coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza, uma das vozes mais críticas ao envolvimento das Forças Armadas na política. Para ele, os generais criaram um “Partido Militar”.
Em entrevista à BBC News Brasil no dia 12 de junho último, Pimentel foi categórico: “Estão destruindo a muralha que minha geração construiu entre as forças armadas e o governo, entre o militar e a política”. No seu ponto de vista o Brasil possui hoje um governo militar, pois dos 17 generais do Alto Comando do Exército, 15 ocupam cargos de primeira ordem no governo, tanto na administração direta quanto na indireta.
O presidente Bolsonaro não seria a verdadeira voz de comando, apenas um meio pelo qual essa organização militar conseguiu chegar ao poder de forma institucional, sem ruptura democrática. O plano seria a manutenção desse poder nas mãos desses líderes militares, com ou sem Bolsonaro. Entre eles há uma certeza: o “Partido Militar” estará no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, assim como estiveram, e acabaram vencendo, na eleição de 2018.
Não teria sido Bolsonaro que procurou o apoio dos militares, mas eles que os procuraram e o encorajaram a entrar no jogo da eleição presidencial, assim como deixaram transparecer que havia uma disputa entre vários nomes da política para a vaga de vice na chapa, quando na verdade já estava decidido que essa vaga seria de um militar, faltando apenas definir o nome, escolha que mais tarde recaiu sobre o General Hamilton Mourão, que pode vir a ser o futuro candidato à presidência representando os militares. A outra carta na manga seria o General Santos Cruz.
Santos Cruz chegou a compor a equipe de Bolsonaro, mas foi demitido em uma dessas constantes crises internas do governo. Desde então tem mantido intensa agenda política e não perde a oportunidade de se manifestar sobre os rumos do governo. Seria o nome para compor uma aliança mais ampla, alcançado o centro. Por enquanto tudo é só teoria, mas a nota dos militares contra Osmar Aziz mostra mais do que aparece em uma leitura superficial. Na prática, os militares estão fazendo política, estão organizados, estão no poder e tudo indica que querem permanecer.