Por *Waldir Maranhão
Para além das opiniões e posturas dos que negam a ciência, as estatísticas e os fatos que impulsionam com crueldade a história que narra o mundo pandêmico atual, são, inegavelmente, tão reais quanto assustadoras! Para otimizar o nosso tempo, correndo fora da raia do “mais do mesmo”, é que proponho breve reflexão sobre como esse momento de crise global nos oportuniza a construção de recomeços na medida em que entendemos como já estabelecido um “novo normal”, talvez um “novo possível”.
Antes mesmo da Covid-19, o nosso mundo, dito pós-moderno, já flertava com “pandemias” múltiplas que, apesar de repercutirem menos que a do novo coronavírus, afetavam e afetam todo o planeta, provocando dor, medo e também muitas mortes. Sedentarismo, obesidade, diabetes, estresse, intolerância. E contra todos esses vírus psicossomáticos, biológicos e sociais, nenhuma vacina ou tratamento ativo e efetivo em estudo ou mesmo em curso.
Sem os holofotes da imprensa e das mídias sociais, esses imaginários vírus e bactérias, que agem nas entranhas do universo psicossocial, seguem, de forma implacável, vitimando gente, economias e comunidades. Não é novidade para ninguém, em São Luís, no Maranhão ou mesmo no Brasil, que a minha bandeira sempre foi e será a EDUCAÇÃO! E creio que cabe aqui, mais uma vez, hasteá-la.
Pandemia de Covid-19 gritando por soluções científicas aplicáveis à salvação de vidas! E enquanto vacinas baseadas no mapeamento genético não se materializavam nos frascos e seringas, o que salvava vidas era parte dos “protocolos” ensinados, não nas universidades, mas, sim, na EDUCAÇÃO INFANTIL.
Diante desse cenário de catástrofe, lembro-me da minha professora – Tia Socorrinho (Maria do Perpétuo Socorro – quer nome mais apropriado e oportuno!?) lá do Jardim de Infância São Francisco, fincado no coração da Praça da Alegria, me dizendo: “Hora do lanche e do Recreio! Mas, só vai merendar quem lavar bem as mãozinhas!”.
Seguindo essa voz que ainda ecoa na memória, como se de uma segunda mãe fosse, passei pelo Colégio Almeida Oliveira (então localizado em frente à Igreja de São Pantaleão) onde cursei a escola primária, fiz o segundo grau lá no Liceu Maranhense e acabei por fazer uma parada maior na Universidade Estadual do Maranhão, a nossa querida UEMA, onde não apenas cursei a educação em nível superior, mas também me graduei e ensinei, como tive também a grande honra de dirigir a instituição, ocupando a nobre função de REITOR.
O “lavar bem as mãozinhas” da Tia Socorrinho, quase que como um túnel do tempo, alcança novamente a mim e a todos nós, nesses novos dias de outros protocolos sanitários. Contudo, foi preciso um vírus voraz e letal para nos “reeducarmos”, puxando bem mais que nossas orelhas.
As tais “fake news” são um vírus terrível que também grassa mundo afora (outra pandemia), matando pessoas e reputações.
O que dizer da EDUCAÇÃO como vacina para este e os demais vírus pandêmicos aqui já referidos? Haveria mesmo que se DECRETAR LOCKDOWN fossem os cidadãos conscientes e educados para o cumprimento dos seus deveres e usufruto dos seus direitos individuais e coletivos?
A EDUCAÇÃO, sozinha, não tem o condão de salvar o mundo. Porém, sem o beneplácito da EDUCAÇÃO, o planeta estará condenado a se perder! Educação física. Educação psicológica e espiritual. Educação ambiental e financeira. Educação/Educações como proposta para imunizar corpo, alma e espíritos.
Mesmo sob o risco de ser chamado de saudosista, por que não uma certa “carga horária de Educação Moral e Cívica”? Sem qualquer referência ao período obscuro da história nacional, até porque sou defensor intransigente da democracia, urge a necessidade de as escolas assumirem de vez o papel de formar cidadãos. Afinal, uma sociedade só é capaz de existir como um todo quando um cidadão respeita o próximo e seus respectivos direitos, que no Estado Democrático de Direito são universais.
Esse processo no campo da cidadania se dá a partir de detalhes, os quais podem e devem ser cultivados na infância, no primeiro setênio da vida de cada um. Nesse período, os primeiros sete anos, é possível forjar um cidadão de bem e preocupado com o seu semelhante. Por isso urge a necessidade de olharmos com mais atenção para a chamada educação da primeira infância.
Aquele momento mágico em que os pais leem uma estória ou um conto infantil para os filhos tem valor incomensurável. Porém, se não nos preocuparmos com a educação na primeira infância, as crianças de hoje, que serão adultos amanhã, não saberão ler para contar estórias às crianças do futuro.
Como disse o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), um dos expoentes do pensamento da era moderna, “o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.
Eu sou Waldir. Meu sobrenome é o Maranhão, a EDUCAÇÃO, minha eterna bandeira!
(*) Waldir Maranhão – médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.