Por Steffano Silva Nunes
O município de São João Batista, na baixada ocidental maranhense, mesmo depois da construção da rodovia, até hoje é distante da capital do Maranhão, São Luís. Mas houve uma época que essa distância parecia maior ou pior ainda. Pois até a década de 1980 o único meio de transporte para a capital era através de lanchas, que carregavam de tudo: pessoas, gado e cargas em geral. O único conforto permitido era estender uma rede e nela dormir.
Se o município já era distante, o que dizer dos povoados que só eram acessados por montarias em épocas de seca, pois a baixada alaga quase toda a metade do ano. Ai só resta a canoa. Mas haviam locais mais distantes ainda. Eram aquelas casas afastadas dos povoados, nos campos ou em áreas de mata. Em uma dessas áreas, do “mato” do povoado de Santana, do município de São João Batista, nasceu uma bela jovem de nome Anadir.
Ela era uma das moças mais cobiçadas dos bailes de São Gonçalo, uma espécie de dança com estilo medieval, Importada pelos portugueses, onde se formavam duas filas: uma de homens e outra de mulheres. Com seus devidos pares estabelecidos. Era a maior festa da localidade e ela brilhou ali por vários anos como rainha.
Mas a vida não só lhe deu a beleza invejável. Criada sem pai, apenas pela mãe e com a ajuda da avó, também tinha a tarefa de ajudar na condução do caminho do seu irmão mais novo: Jocemar. Atrás de uma vida melhor partiu para São Luís, morando na casa de parentes, se dedicando a estudar e se tornando uma ótima costureira e uma cozinheira de mão cheia.
Sempre que retornava à cidade natal matava um pouco da saudade dos bailes e voltava a brilhar e encantar. Foi assim que o jovem soldado do exército, do município vizinho de Matinha, se apaixonou à primeira vista ao passar pelo baile. Tanto fez que tempos depois a “roubou” para casar. A mãe a considerava muito jovem para o matrimônio com apenas 19 anos de idade. Naquela época, ou os pais autorizavam ou a noiva era “roubada”. Em qualquer dos casos a história tinha que terminar em casamento, pois havia sempre um parente disposto a “lavar a honra”
Depois da situação acalmada, o jovem casal rumou para São Luís onde fizeram suas vidas e tiveram três filhos e cinco netos. Aquela jovem passou a ser a Dona Anadir. Firme em alguns assuntos, mas meiga e acolhedora com quem se aproximava e a ela recorria sempre. Os netos gostam de lhe conferir o título de melhor Vó do mundo. Talvez essa tenha sido sua maior missão de vida: criar. Criar os filhos e também os netos. Se realiza com isso.
Hoje, 16 de fevereiro, Dona Anadir completa 71 anos de vida e continua lutando da mesma forma que a menina do povoado de Santana sempre lutou. Está há vários dias em um leito de UTI com os pulmões invadidos por um tubo que descarrega o vital oxigênio. Seus familiares estão divididos entre a tristeza dessa doença e a alegria de ver que ela se mantém lutando pela vida.
Suas filhas Zama e Sara estão apreensivas. Os netos: Jackson, Victor, Mariana, Juliana e Izabela sofrem bastante. O filho mais velho, que sempre quis ser uma espécie de pai para ela, vive agora se culpando. Acha que deveria ter sido mais rígido com a mãe no seu distanciamento social. As discussões que mantinham sempre acabavam com o filho levando pão quente e bolo de tapioca para um café no fim do dia. Ela sempre entendeu essa forma de pedido de desculpa.
O que todos querem agora é comemorar sua volta para casa e que continue tendo forças para lutar e vencer essa batalha.
Parabéns Mamãe! FELIZ ANIVERSÁRIO!
Acabei de olhar sua postagem meio que por acaso mexendo no celular e fiquei comovida, não conheço você nem sua Mãe, mas pude perceber que ela é uma mulher guerreira e seu amor de filho dedicado. Diante disso, por algum motivo deu vontade de desejar a ela saúde e a vocês fé para adquirirem forças em tempo difíceis. O interessante que quase nunca faço comentários em postagens de quem não conheço. Hoje tive vontade !