Entre a cruz e a caldeirinha, o prefeito recém-eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), tomou posse em uma conjuntura de escalada de alta de casos e de mortes de covid-19, filas para internação de UTI e alto risco de contágio, mas descarta decretar lockdown. “Não há cheiro de lockdown”, disse o prefeito ao deixar a missa em homenagem a São Sebastião, padroeiro da cidade, na última quarta-feira, enquanto as praias lotavam no feriado de verão, cena comum durante os últimos dez meses de pandemia em praias como Ipanema e Copacabana.
Boletim divulgado nesta sexta-feira mostrou que todas as 33 regiões administrativas do Rio estão sob risco alto de contágio, abaixo apenas do risco muito alto, uma piora em relação aos boletins semanais anteriores. Ao comentar o dado, Paes disse que, se preciso, tomará medidas mais rígidas e disse ser “burrice” desrespeitar as regras de prevenção. Na manhã deste sábado, no entanto, em uma live na internet, afirmou que “ninguém quer fechar a cidade e que tudo está aberto” e o problema é a falta de conscientização das pessoas.
“Eu entendo a posição do prefeito em uma cidade como o Rio de Janeiro, que está falida. Ele precisa movimentar a economia, ter ISS, por exemplo, para pagar salário dos servidores. É muito difícil dizer para fechar tudo. Porque a cidade vai falir. O nosso modelo não é europeu, grande parte da nossa força de trabalho é informal, é difícil fazer como a Inglaterra, que está fazendo quatro semanas de lockdown”, afirmou Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, e integrante do Comitê Especial de Enfrentamento da covid-19 da nova administração municipal.
A equipe de Paes estima em 10 bilhões de reais o rombo fiscal do município deixado pela administração passada. Paes tem tido dificuldade para pagar os salários dos servidores e ainda trabalha para anunciar um cronograma de pagamento do 13° salário do ano passado para a maioria dos servidores e pensionistas.
Dependente de recursos federais e do Estado do Rio, que também está em situação fiscal difícil, em Regime de Recuperação Fiscal junto à União, Paes tem tido uma postura amistosa com o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e evita críticas ao governo Jair Bolsonaro (sem partido). Aceitou participar do evento das primeiras pessoas vacinadas pela Coronavac aos pés da estátua do Cristo Redentor, iniciativa do governador que mais parecia uma celebração, criticada por muitos cariocas em meio a tantas mortes.
Proibido dançar em boates abertas
Preocupado com a economia, liberou o funcionamento de boates com a inusitada proibição de dançar. “Você tem uma forma de funcionar boate sem que as pessoas precisem ficar dançando”, argumentou o prefeito ao fazer o anúncio. Há cerca de uma semana, a orla foi reaberta para atividades físicas e de lazer.
Paes demorou uma semana para se posicionar contra a realização de um Carnaval de rua previsto para julho e proibiu o evento. O projeto de lei que instituiu o Carnaval fora de época foi sancionado pelo governador em 12 de janeiro. “Nunca escondi minha paixão pelo Carnaval e a visão clara que tenho da importância econômica dessa manifestação cultural para a nossa cidade. No entanto, me parece sem qualquer sentido imaginar a essa altura que teremos condições de realizar o Carnaval em julho”, afirmou o prefeito por meio de redes sociais na quinta-feira.
O Rio é a capital do país com a maior taxa de letalidade sobre casos de covid-19 desde o início da pandemia, evidenciando a fragilidade do seu sistema de saúde. Atualmente, a taxa tem ficado na casa dos 9%, acima da de Manaus, que vive um caos com a falta de oxigênio aos doentes graves.
São 16.685 mortes e 184.293 casos na cidade. A média diária de mortes da última semana, de 84, subiu em relação à dos últimos 30 dias, que era de 74. A ocupação de leitos em UTI da capital está em 90% e de 75% nas enfermarias. O Estado do Rio de Janeiro já superou a marca de 500.000 casos e contabiliza mais de 28.812 mortos.
Fonte: El País.