Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (27), o vice-presidente da CPI da Pandemia, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), declarou que, em 30 dias de funcionamento do colegiado, ficou claro o funcionamento de um “gabinete paralelo” de enfrentamento à covid-19. Segundo ele, esse assessoramento ao governo federal estaria adotando uma estratégia diferente da estabelecida pela ciência, insistindo no tratamento precoce e na aposta na imunidade de rebanho. No entendimento de Randolfe, o depoimento do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, deixa clara também a negação da vacina pelo governo.
— Temos mais de 80 milhões de doses de vacinas que poderiam ter sido aplicadas desde dezembro até agora. Isso significaria 40 milhões de brasileiros imunizados. Isso teria um peso enorme para conter a segunda onda da pandemia e salvar vidas — afirmou.
Para o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), o depoimento de Dimas Covas fez desta quinta-feira um dos maiores dias do funcionamento da comissão. Para ele, a CPI tem cumprindo a expectativa de revelar a consultoria informal ao governo a favor de métodos ineficazes de enfrentamento da pandemia.
— Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do tratamento precoce. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas — definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.
Também membro da CPI, o senador Humberto Costa (PT-PE) acrescentou que, somando a quantidade de vacinas oferecida por outros laboratórios, toda a população vulnerável brasileira já poderia ter sido imunizada.
— Esse depoimento de hoje foi demolidor para o governo. É uma demonstração clara da omissão e do desinteresse — sublinhou.
‘Pré-julgamento’
O senador Marcos Rogério (DEM-RO), também em entrevista coletiva, acusou a comissão de inquérito de estar contaminada pelos “vírus do pré-julgamento e da politicagem”. Para ele, a oposição tenta politizar a doença e carimbar o presidente Jair Bolsonaro como culpado pela pandemia.
— Eles não querem saber a verdade. Eles já têm debaixo do braço uma sentença pronta, desde o início — protestou.
O parlamentar ainda criticou os protestos da oposição contra o avanço das investigações da CPI sobre irregularidades de governos estaduais e municipais. Ele disse que a CPI deve uma resposta à sociedade sobre as denúncias de desvio de verbas, e declarou-se assustado com o esforço para impedir o depoimento de governadores à comissão.
— Há claramente um movimento de blindagem em relação a esses gestores estaduais, que são apontados como suspeitos de contratos fictícios, superfaturamento nas compras sem licitação, suspeitos de prática de crimes de corrupção — denunciou, salientando que “má gestão também mata”.
Governadores
Humberto Costa, citando precedentes de comissões de inquérito, opinou contra a convocação de governadores na CPI da Pandemia, mas ressalvou que o colegiado pode buscar uma solução intermediária sem a intervenção do Judiciário.
— Eles querem vir, querem dizer como foi ser governador de estado tendo um governo federal como este, que não articulou politicamente e administrativamente o enfrentamento — enfatizou.
“Tratamento precoce”
Já o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), citou exemplos dos governos do estado do Amapá e do município de Porto Feliz (SP) que adotaram o “tratamento precoce” e apresentaram baixos índices de letalidade de covid-19.
— Se tivéssemos usado esse tratamento no Brasil inteiro sem criminalização, teríamos, quem sabe, a metade das mortes — afirmou, acrescentando seu apoio à vacinação.
‘Efeito pedagógico’
Renan, que criticou a resistência de Bolsonaro a cumprir procedimentos sanitários, mencionou o “efeito pedagógico” da nova convocação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para que deixe de “delinquir” em aglomerações indevidas — atitude que considera um desrespeito ao funcionamento da CPI.
O relator acrescentou que, juntamente com Randolfe, Humberto Costa e os membros da CPI que estiverem pessoalmente em Brasília, visitará nesta sexta-feira (28) a sala-cofre do Senado, espaço que recebe e reúne as informações requeridas pela comissão. Ele frisou que trata-se de material de grande importância para elucidação dos fatos investigados.
Fonte: Agência Senado