Estrangeirismos
Em nossa coluna de hoje, vamos falar de duas palavrinhas muito usuais, tomadas de empréstimo da língua inglesa, que são muito comumente utilizadas: handicap e spoiler.
1. Handicap
Essa palavra é utilizada amiúde no sentido de “vantagem” ou “diferencial”. Observe alguns exemplos retirados de sites de empresas e jornais renomados:
O dono da empresa, aliás, além de produzir cachaça boa, tem longa experiência em comércio varejista, o que é um handicap a mais para que a loja alcance o sucesso.
Quem for apoiado pelo prefeito Fulano supostamente já sai com handicap sobre a concorrência.
As tarrachas de trava são um grande handicap que utilizamos na fabricação de nossos instrumentos.
Jogar em casa é sempre um handicap a mais, porque você conta com o apoio maciço da torcida.
O erro está na acepção errada em que se utiliza essa palavra. Na verdade, handicap, em inglês, significa exatamente o contrário: “uma circunstância que dificulta o progresso ou o sucesso”, uma condição na qual parte do seu corpo foi danificada permanentemente ou não funciona normalmente: a physical handicap, severe mental handicap.
Vemos, portanto, que “handicap” tem carga semântica negativa, podendo até ser traduzido por “aleijume”. Tanto é que “handicapped” era a tradução para “aleijado” em inglês. Tanto lá como cá, mudaram-se as nomenclaturas: deficiência e disability.
2. Spoiler
Essa palavra está muito popularizada entre o público jovem, quando eles se referem a filmes, imaginando que signifique “desfecho” ou “relato do desfecho”. Observe as duas maneiras como se utiliza spoiler entre a garotada:
Por favor, não dê o spoiler do filme.
Droga! Eu lhe pedi para não fazer o spoiler. Eu ainda não vi esse filme.
Aqui a palavra spoiler é utilizada nas expressões: “dar o spoiler” e “fazer o spoiler”, o que não faz muito sentido se observarmos o significado real dessa palavra:
Em inglês, “spoil” é o verbo estragar. Com o sufixo -er, esse verbo torna-se substantivo e significa “aquele que estraga”. Ou seja, a tradução literal de spoiler é “estragador”.
Mas estragador de quê?
Como nessa situação apresentada, estamos tratando de filmes, spoiler seria aquele que estraga o prazer de ver o final, porque já ficará conhecido. Ou seja, podemos traduzir spoiler como o estraga-prazeres. Vemos, então, que não é correto usar esse termo com os verbos “dar” e “fazer” (dar o estraga-prazeres ou fazer o estraga-prazeres). A maneira correta de utilizar spoiler seria com o verbo “ser”, da seguinte forma:
Não seja o spoiler (isto é: não seja o estraga-prazeres).
Em nossa opinião, esse estrangeirismo é injustificado, uma vez que temos as palavras equivalentes, que, inclusive, não deixam dúvida quanto a seu uso. Ficaria muito mais claras as seguintes construções:
Por favor, não diga o final do filme.
Droga! Eu lhe pedi para não contar o desfecho. Eu ainda não vi esse filme.
(UFMA)