Um levantamento realizado pelo site Folha do Maranhão, com base em informações do Portal da Transparência do Senado Federal, trouxe à tona uma situação que revela uma contradição política. Enquanto o deputado estadual Othelino Neto (Solidariedade) questiona no Supremo Tribunal Federal (STF) a nomeação de parentes pelo governador Carlos Brandão, a sua esposa, a senadora Ana Paula Lobato (PSB), mantém sua cunhada em um cargo comissionado em Brasília com um salário expressivo.
Camila Pinheiro Borges, cunhada de Ana Paula e esposa de Emílio Lobato, irmão da senadora, ocupa um cargo no gabinete desde o início de 2023. De acordo com o levantamento, o salário de Camila cresceu de R$ 9 mil para R$ 21 mil em menos de dois anos. Somando auxílios alimentação e pré-escola, o valor mensal da remuneração atingiu R$ 23.663,86 em novembro. Já em dezembro, com a antecipação do 13º salário no valor de R$ 7.726, a remuneração pode ultrapassar R$ 30 mil.
Ainda segundo os dados levantados, no primeiro ano como servidora no Senado Federal, Camila Borges recebeu R$ 219.898,63, valor que subiu para R$ 269.648,29 em 2024. Ao longo dos dois anos de nomeação, os ganhos totalizam quase R$ 490 mil. Antes de ocupar o cargo em Brasília, Camila atuou na Assembleia Legislativa do Maranhão por nove anos, período em que acumulou mais de R$ 1,2 milhão em salários, benefícios e gratificações.
A situação expõe um paradoxo evidente no discurso do deputado Othelino Neto, que, por meio de seu partido, entrou com ação no STF contra nomeações feitas pelo governador Carlos Brandão, alegando violação dos princípios constitucionais da moralidade e impessoalidade. A ação resultou, inclusive, na exoneração de Marcus Brandão, irmão do governador, de cargos tanto na Assembleia Legislativa quanto no secretariado estadual.
No entanto, a presença da cunhada da senadora Ana Paula Lobato em um cargo comissionado, com remuneração superior a R$ 21 mil, coloca em xeque a coerência entre o discurso do deputado e as práticas familiares. Enquanto Othelino Neto defende a moralidade no serviço público e condena a nomeação de parentes no governo estadual, sua própria família mantém cargos públicos com salários robustos pagos pelos cofres públicos.
A revelação reacende o debate sobre o nepotismo e a ocupação de cargos públicos por familiares de autoridades, especialmente em contextos onde há questionamentos jurídicos sobre práticas semelhantes. A situação também gera questionamentos entre aliados e opositores de Othelino Neto e Ana Paula Lobato, que cobram um posicionamento mais transparente diante das denúncias.
Em meio a críticas e polêmicas, o caso evidencia um problema recorrente na política brasileira: o uso de cargos comissionados para beneficiar parentes, desafiando princípios constitucionais e enfraquecendo o discurso de moralidade defendido por lideranças políticas.