Cientistas filmaram um peixe nadando em uma profundidade extraordinária no oceano, tornando-se a observação no ponto mais profundo do mar já feita.
A espécie – um tipo de peixe da família Liparidae e do gênero Pseudoliparis – foi filmada nadando a 8.336 metros de profundidade.
O animal foi registrado por uma câmera acoplada a uma estrutura metálica operada à distância e lançada na fossa oceânica de Izu-Ogasawara, ao sul do Japão.
O peixe filmado estava na profundidade máxima em que um peixe pode sobreviver ou muito próximo dela, segundo Alan Jamieson, professor da Universidade da Austrália Ocidental e principal pesquisador do estudo que registrou o bicho.
A observação anterior mais profunda de peixes foi feita a 8.178 metros, ao sul do Pacífico, na Fossa das Marianas. Esta descoberta no Japão, portanto, bate o recorde de profundidade em 158 m.
“Se esse novo recorde for quebrado, será apenas por pouquíssima diferença, potencialmente por apenas alguns metros”, disse Jamieson à BBC News.
Pesquisador das regiões mais profundas do oceano, Jamieson fez uma previsão há 10 anos de que peixes provavelmente seriam encontrados em profundidades de 8.200 m a 8.400 m. Uma década de pesquisas em todo o mundo confirmou essa previsão.
Animais notáveis
O espécime jovem de Pseudoliparis foi filmado por um sistema de câmera acoplado a uma estrutura metálica e lançado pela lateral do navio DSSV Pressure Drop. Uma isca foi adicionada à estrutura para atrair a vida marinha.
Embora o peixe não tenha sido capturado para identificar exatamente qual era sua espécie, vários peixes foram capturados a uma profundidade um pouco menor na Fossa do Japão, a 8.022m.
Os peixes capturados também eram da família Liparidae, da espécie Pseudoliparis belyaevi, e estabeleceram o recorde para ‘peixe pescado em local mais profundo do oceano’.
Os peixes Liparidae são incríveis. Existem mais de 300 espécies, muitas das quais vivem em águas rasas e podem ser encontradas em estuários de rios.
Mas as espécies dessa família também se adaptaram às águas frias do Ártico e da Antártica e às condições de extrema pressão que existem nas fossas mais profundas do mundo.
A 8 km de profundidade, eles estão sob uma pressão de mais de 80 megapascais – 800 vezes a pressão na superfície do oceano.
Seus corpos gelatinosos os permitem sobreviver. Uma vantagem adicional é não ter uma bexiga natatória, um órgão cheio de gás encontrado em muitos peixes e usado para controlar a flutuabilidade – que sofreria com a alta pressão.
A forma como se alimentam também favorece a vida nas profundezas. Eles comem por sucção e consomem minúsculos crustáceos, muitos dos quais existem nas fossas do oceano.
O professor Jamieson diz que a descoberta de um peixe a uma profundidade maior do que o encontrado na Fossa das Marianas provavelmente se deve às águas ligeiramente mais quentes da fossa de Izu-Ogasawara.
“Nós previmos que o peixe em local mais profundo estaria lá e previmos que seria um Liparidae”, disse ele. “Fico frustrado quando as pessoas dizem que não sabemos nada sobre o fundo do mar. Nós sabemos. As coisas estão mudando muito rápido.”
Jamieson é o fundador do centro de pesquisa Minderoo-UWA Deep Sea. Nessa expedição, que também explorou a fossa de Ryukyu, ele trabalhou com uma equipe da Universidade de Ciência e Tecnologia Marítima da Universidade de Tokyo.
O navio DSSV Pressure Drop e seu submarino tripulável chamado Limiting Factor haviam sido usados pelo aventureiro americano Victor Vescovo em 2018 e 2019 para visitar as partes mais profundas dos cinco principais oceanos da Terra. O texano se tornou a primeira pessoa na história a completar esse “circuito”, e Jamieson atuou como principal cientista na empreitada.
O navio e o submarino foram vendidos no ano passado para a organização de pesquisa marinha Inkfish e agora foram enviados para uma reforma em San Diego, nos EUA.
Eles também foram renomeados – o navio agora é Dagon e o submarino é Bakunawa – e voltarão ao mar novamente em junho, com Jamieson novamente atuando como cientista-chefe.
Jamieson, que nasceu na Escócia, é creditado por descobrir não apenas os peixes em locais mais profundos dos oceanos, mas também os polvos, águas-vivas e lulas das profundezas.
Fonte: BBC