O Diretório Central dos Estudantes (DCE) “17 de Setembro”, gestão “Um Passo à Frente”, da Universidade Federal do Maranhão, entidade de representação máxima dos estudantes de Graduação e Pós-Graduação da UFMA, vem a público manifestar seu total apoio à historiadora Tertuliana Lustosa e se posicionar diante dos recentes acontecimentos em nossa universidade.
Repudiamos a nota emitida pela UFMA em relação à participação de Lustosa no seminário “Dissidências de Gênero e Sexualidades”, organizado pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (Gaep). Acreditamos que a diversidade de gênero e sexualidade deve ser respeitada e celebrada, e que eventos acadêmicos são espaços legítimos para o debate de ideias. A apresentação de Tertuliana, fundamentada em teorias críticas como as de Judith Butler e Michel Foucault, foi uma valiosa contribuição para a compreensão de questões relacionadas a gênero, identidade e poder.
Estivemos também na abertura do Space Week Nordeste 2024, realizada no Centro Pedagógico Paulo Freire, na UFMA, onde foram discutidos os avanços que estão transformando o setor aeroespacial, desde satélites até sistemas de propulsão, além do papel do Brasil na exploração espacial global.
Contudo, enquanto a única instituição de ensino superior federal do estado recebia “líderes da indústria e acadêmicos renomados que estão moldando o futuro” – todos homens, heterossexuais, cisgêneros, idosos, brancos e de cabelos grisalhos –, não havia sequer bebedouros funcionando no prédio onde o evento ocorria. A administração superior da UFMA atinge o limite do ridículo e ultrapassa a linha da razoabilidade ao emitir uma nota declarando que “não compactua com quaisquer tipos de ações que possam desrespeitar os valores e princípios basilares da instituição”. Essa contradição expõe a hipocrisia de uma gestão que se preocupa mais com aparências do que com as necessidades reais da comunidade acadêmica.
Como uma instituição de renome como a UFMA pode priorizar e promover eventos tecnológicos enquanto nem sequer oferece bebedouros para seus estudantes? Não estamos falando apenas daqueles que participam dos eventos, mas dos que frequentam os espaços da universidade ao longo de todo o ano letivo. É inconcebível que falte algo tão básico quanto água em um ambiente acadêmico.
O contexto em que essa apresentação foi descontextualizada e viralizada nas redes sociais, gerando interpretações distorcidas do propósito do evento, é um reflexo claro dessa hipocrisia. Enquanto atacam a performance artística em um evento acadêmico reservado a debates sobre dissidências de gênero, ignoram falhas gritantes de infraestrutura que afetam diretamente a dignidade dos estudantes.
Além disso, ao longo do ano, a administração da UFMA oprime seus estudantes com uma série de negligências, como a precarização do Restaurante Universitário e a falta de assistência estudantil. Contudo, em setembro, a instituição se “pinta de amarelo”, como forma simbólica de apoio à campanha de prevenção ao suicídio, sem enfrentar as causas reais do adoecimento mental dos estudantes.
A performance de Tertuliana Lustosa, mesmo considerada inapropriada por alguns, é uma expressão legítima no espaço acadêmico e artístico. A liberdade de expressão e a diversidade devem ser defendidas com firmeza. Não é aceitável que uma gestão, responsável por permitir o sucateamento da universidade, se erga como guardiã da moralidade (vulgo “Fiscal de Cu”) ao emitir notas de repúdio enquanto negligencia questões fundamentais como o fornecimento de papel higiênico nos banheiros e a manutenção de um ambiente seguro e digno para a comunidade acadêmica.
Por fim, reafirmamos nosso compromisso com a construção de uma universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade, onde todas as vozes possam ser ouvidas e respeitadas. Seguiremos lutando pela defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+, pela melhoria das condições de infraestrutura e pelo fim das práticas de perseguição àqueles que se posicionam contra a atual administração. A gestão do DCE “17 de Setembro” acredita que é preciso ir além das aparências e enfrentar, de fato, os problemas que afetam o cotidiano dos estudantes, sempre em busca de uma universidade mais justa e plural.