Por Waldir Maranhão
No último artigo enfatizei a disparidade social existente no Brasil e o compromisso que de todo homem público deve assumir em relação ao tema. É preciso reduzir urgentemente esse fosso que separa ricos e pobres, privilegiados e abandonados. A persistir esse cenário discriminatório é impossível falar em retomada da economia.
De nada adianta promessa feita em cima de palanque, pois na prática, passadas as eleições, a dura realidade enfrentada pelos brasileiros continua a dar o tom do cotidiano.
Em ano de eleições, o cidadão precisa estar atento às propostas dos candidatos no campo social, sem as quais torna-se quase impossível ir às urnas com esperança.
Como sempre destaco, não se trata de ser de esquerda ou de direita, mas de ser justo e preocupado em relação aos brasileiros, em relação aos meus conterrâneos, os maranhenses, que ao longo da pandemia afundaram ainda mais na vala do desespero.
O ex-presidente Lula, que tem desafetos no eleitorado nacional, como acontece com qualquer político, agora enfrenta a fúria de outros pré-candidatos ao Palácio do Planalto.
Essa reação dos presidenciáveis decorre da vantagem que Lula vem consolidando em todas as pesquisas eleitorais. O petista aparece como vitorioso em todas as simulações feitas pelos institutos de pesquisa, podendo, inclusive, ser eleito no primeiro turno.
O jogo eleitoral tende a ser mais duro e covarde de agora em diante, mas o ex-presidente só não subirá a rampa do Palácio do Planalto mais uma vez se cometer algum erro grave na campanha, algo difícil de acontecer. Até mesmo aliados dos presidenciáveis admitem a larga chance de Lula voltar à Presidência.
Conjecturas políticas e eleitorais à parte, é preciso reconhecer que, desde a redemocratização, o único período em que o brasileiro menos aquinhoado sentiu a corda no pescoço afrouxar foi no governo Lula.
Isso se deve às políticas sociais que o petista implantou nos oito anos em que esteve na Presidência, algumas das quais herdadas de Fernando Henrique Cardoso e melhoradas na gestão petista. Goste-se ou não de Lula, é impossível negar a realidade dos fatos.
O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que desde a eleição de 2018 não desceu do palanque, não conseguiu emplacar qualquer programa social que merecesse destaque.
O auxílio emergencial, adotado no rastro da pandemia de Covid-19, só alcançou valor mais elevado por pressão de parlamentares da oposição. Mesmo assim, o pagamento do benefício demorou a sair, como se a fome pudesse esperar. Como disse o grande e saudoso sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, “quem tem fome, tem pressa”.
Encerrado o auxílio emergencial, Bolsonaro decidiu rebatizar o Bolsa Família, agora Auxílio Brasil. Tentou emplacar um benefício no valor de R$ 400 até o fim de 2022, mas o viés eleitoreiro da medida fez com que parlamentares reagissem à altura. Mudou o nome do programa “Minha Casa, Minha Vida”, agora chamado “Casa Verde e Amarela”. Alterar os nomes de programas sociais serve para nada em termos sociais, mas tem efeito de embuste nas urnas eleitorais.
Como homem público preocupo-me com todos os brasileiros, mas meus olhos estão voltados para a tragédia que assola o Maranhão. Não posso pensar e agir de forma diferente, pois deparo-me diariamente com a triste realidade que bate à porta dos meus conterrâneos.
Leonel de Moura Brizola, que neste 22 de janeiro completaria 100 anos, foi certeiro ao afirmar que “uma criança só pode aprender quando se nutre, e não quando está cheia de parasitas.”
Em março de 2020, quando a pandemia do coronavírus começava a avançar com mais ímpeto no país, Bolsonaro, que continua agarrado ao negacionismo, disse que o brasileiro merecia ser estudado, pois pisa no esgoto e nada acontece. Essa fala absurda e desconectada da realidade serviu para o presidente colocar em xeque, naquele momento, a cruzada do coronavírus.
Rotulado como genocida, Bolsonaro tentou ludibriar a opinião pública com o negacionismo que o acompanha até agora. O brasileiro precisa de saneamento básico, de educação de qualidade, de emprego, de dignidade. Nada que fuja do campo da democracia, do bom-senso, da cidadania.
Para concluir, cito um pensamento que vai ao encontro do meu. Disse o cantor e compositor Caetano Veloso: “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome.”