O Brasil perdeu nesta segunda-feira (4) uma de suas maiores referências no fotojornalismo. O fotógrafo Evandro Teixeira faleceu aos 88 anos, no Rio de Janeiro, após complicações de uma pneumonia que resultaram em falência múltipla de órgãos. Internado na Clínica São Vicente, na Gávea, Evandro deixa um legado de mais de 70 anos de dedicação ao registro fotográfico, com imagens que documentaram momentos fundamentais da história do Brasil e do mundo.
Evandro será velado nesta terça-feira (5) na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, das 9h às 12h. Nascido em Irajuba, na Bahia, em 1935, iniciou sua carreira no jornalismo em Salvador, mas foi no Jornal do Brasil, a partir de 1963, que ele conquistou reconhecimento nacional e internacional. Com uma carreira de quase 47 anos no veículo, suas imagens se tornaram icônicas ao capturar a realidade brasileira e os conflitos globais da segunda metade do século XX.
Evandro Teixeira foi autor de algumas das fotografias mais marcantes dos anos de repressão e ditadura no Brasil. Entre elas, a famosa imagem da tomada do Forte de Copacabana, em 1º de abril de 1964, em que soldados aparecem em silhueta sob uma forte chuva, simbolizando o início de anos difíceis de governos autoritários. Em 1968, ele também registrou a icônica fotografia de um estudante caindo ao chão enquanto policiais se preparam para atacá-lo, em meio a protestos contra a ditadura militar.
Além das fronteiras brasileiras, Evandro atuou internacionalmente. Em 1973, conseguiu entrar em Santiago, no Chile, dez dias após o golpe militar que depôs o governo de Salvador Allende. No Estádio Nacional, ele fotografou estudantes detidos em porões, sob forte vigilância, revelando a brutalidade do regime de Pinochet. A cobertura incluiu também o primeiro registro da morte de Pablo Neruda, que ele fotografou ainda no hospital, acompanhando depois o funeral do poeta.
Evandro também documentou questões sociais com um olhar crítico. Em uma ocasião, ele foi preso por fotografar um carregamento de carne bovina sendo entregue a quartéis durante uma escassez que afetava a população. A fotografia revelou a diferença no acesso a alimentos entre as autoridades e os cidadãos comuns, marcando sua carreira com uma denúncia contra as desigualdades.
As obras de Evandro integram acervos em instituições renomadas, como o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Recentemente, ele foi homenageado no Centro Cultural Banco do Brasil com uma mostra que exibiu 160 imagens suas, celebrando os 50 anos do golpe militar chileno, cujas consequências ele documentou de perto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitiu uma nota de pesar, exaltando o papel de Evandro no fotojornalismo brasileiro e mundial. “Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira”, afirmou Lula.
Evandro Teixeira deixa um imenso legado de imagens que vão além de meros registros: são documentos históricos, construídos com coragem e sensibilidade, e que preservam a memória de momentos transformadores para o Brasil e o mundo.