Paulo César dos Santos, de 50 anos, pai de uma menina, de 13 anos, morta morta por síndrome pós covid-19 revela que sua filha não teve sintomas da doença causada pelo novo coronavírus e faz alerta: “Era uma criança saudável, uma criança espontânea. Se ela não tivesse contraído o coronavírus, ela não teria morrido. […] Se importem. Porque infelizmente está aumentando os casos sobre crianças”.
A menina morreu no fim do mês passado em Campinas, no interior de São Paulo, de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) pós covid-19 , uma condição rara que pode atingir crianças e jovens de até 19 anos. O caso da filha de Paulo foi o primeiro confirmado na cidade.
A covid-19 contaminou o pai, a mãe da menina e seus dois irmãos. Todos foram diagnosticados positivo para a doença causada pelo novo coronavírus entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 e fizeram exames. A única exceção foi a caçula, de 13 anos, Ana Clara Macedo Santos. Ela não teve sintomas. A família adotou os protocolos e se recuperou, sem gravidade.
Porém, em meados de fevereiro, a menina caçula passou a ter cólicas que não cessavam. Ana foi hospitalizada e descobriu, por exame de sangue, que teve contato com o novo coronavírus.
Após dois dias de internação, o quadro se agravou, com falência de órgãos. “Os rins já tinham parado, o fígado tinha parado, o pulmão estava sendo comprometido”, diz o pai.
A menina morreu em 24 de fevereiro com falência em múltiplos órgãos. “Não sabíamos que existia a síndrome, ficamos sabendo pelo hospital”, diz o pai.
“Não tinha problema respiratório, nem pressão alta, coisas que podem vir com obesidade. Era uma criança saudável. Segundo a Vigilância Sanitária, foi um resultado da Covid. Ela não tinha doença nenhuma”, afirmou o pai.
“Ela deixou um legado pra nós do amor de Deus, o perdão, somos evangélicos. Quero levar o legado dela pra frente. Que tudo isso sirva de alerta que criança também pega. Se previnam, usem máscara, álcool em gel, higienização”, pediu o pai de Ana Clara.
Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós covid-19
De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas, a síndrome caracteriza-se por inflamações da parede dos vasos sanguíneos de órgãos como rins, articulações, sistema nervoso central e vias respiratórias.
Os sintomas são semelhantes aos da doença de Kawasaki, condição que causa inflamação nos vasos sanguíneos e tem sintomas como febre alta e lesões na pele. “Em abril deste ano, pesquisadores de vários países europeus anunciaram a identificação de uma nova síndrome inflamatória em crianças com Covid-19. Segundo os primeiros estudos, a condição teria sintomas parecidos com os da doença de Kawasaki, o que levou os especialistas a acreditarem que o novo coronavírus levasse ao desenvolvimento desse problema pediátrico raro. Contudo, uma pesquisa liderada na Inglaterra mostrou que a condição observada nas crianças com Covid-19 não era a mesma da doença de Kawasaki. Algumas características eram diferentes, logo a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica passou a ser associada ao novo coronavírus”, explicou a pediatra Ana Carolina Ruela da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital da Mulher Dr.ª Nise da Silveira, em Máceio (AL).
Ao contrário da doença de Kawasaki, que costuma aparecer antes dos cinco anos de idade, a SIM-P afeta crianças mais velhas, chegando a atingir, inclusive, os adolescentes. “A principal característica da SIM-P é uma febre alta persistente, que chega a durar mais de três dias, associada aos sintomas gastrointestinais, como dor abdominal intensa, diarreia, náuseas e vômitos. Além disso, o paciente pode apresentar manchas vermelhas no rosto e no corpo, conjuntivite, descamação da pele, linfonodos cervicais e alterações na coagulação sanguínea, favorecendo a formação de trombos e de sangramentos e problemas cardiovasculares”, destacou Ana Carolina Ruela.
Ela acrescentou que, além da febre prolongada, as crianças e os adolescentes podem apresentar o desconforto respiratório, que não é causado por alguma doença pulmonar. “Outra característica da SIM-P é que ela acomete o sistema cardiovascular. A criança ou o adolescente pode desenvolver a miocardite, que é quando o músculo cardíaco inflamado não consegue enviar, satisfatoriamente, o sangue para as partes às quais se destina, decorrente de uma falência transitória do ventrículo esquerdo, resultando no desconforto respiratório”, explicou a pediatra.
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Com informações do portal ‘G1’ e da Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas.