O passeio do presidente Jair Bolsonaro pelo comércio de Brasília neste domingo (29) provocou contrariedade no ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, segundo relatos de aliados.
Nesta segunda-feira (30), Mandetta dará uma nova entrevista coletiva para reafirmar o que disse neste fim de semana: que as pessoas devem permanecer em casa, em isolamento social, para evitar a disseminação do novo coronavírus. Ele deve enfatizar as suas recomendações técnicas, mesmo que isso signifique a sua demissão.
Pela manhã, Bolsonaro saiu do Palácio da Alvorada, e foi ao bairro Sudoeste, onde visitou uma farmácia e uma padaria. Depois, foi ao Hospital das Forças Armadas e ao centro de Ceilândia, uma das regiões administrativas do Distrito Federal.
Nas ruas, a presença do presidente provocou pequenas aglomerações, indo na contramão da orientação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo interlocutores do ministro, houve forte contrariedade com o gesto do presidente. Nas palavras de um aliado, o fato de Bolsonaro ter feito o passeio por Brasília um dia depois da recomendação do ministro foi visto como um movimento para desautorizar a fala dele.
“Mandetta não vai mudar de posição. Vai manter a posição da ciência, mesmo que isso signifique a sua demissão”, disse ao Blog um aliado.
Mandetta avisou para interlocutores que fará uma coletiva nesta segunda-feira, mantendo uma postura inflexível em relação às recomendações do Ministério da Saúde, dando mais ênfase para deixar tudo bem explicado.
Em uma reunião no sábado, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a falar para Mandetta que teria que demiti-lo, diante da divergência de posição na condução da pandemia de coronavírus. Foi uma reunião tensa.
Mandetta havia advertido o presidente que iria ter que desmenti-lo se insistisse com o discurso de minimizar a situação de retomar rapidamente as atividades do país. Foi, então, que o ministro foi direto: “O senhor terá que me demitir, pois não vou pedir demissão”.
Na reunião, que contou com a presença de vários ministros, Mandetta chegou a dizer que teria que restabelecer a autoridade dos governadores que estão adotando as medidas da quarentena. E disse para o presidente que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), estava tomando as atitudes certas. Alertou ainda que o governo não estaria preparado para ver os caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas como estava acontecendo na Itália.
Neste momento, Bolsonaro ficou incomodado e se ausentou por alguns minutos da reunião. Para diminuir a tensão, alguns ministros chegaram a sugerir que Mandetta apresentasse ao presidente um plano para retomar progressivamente as atividades pelo país.
Diante de tudo isso, a percepção de aliados do ministro é a de que, se não houver uma mudança do presidente Jair Bolsonaro, Mandetta poderá ser rapidamente demitido.
Por Gerson Camarotti