A declaração final do G20 Social, evento inovador integrado à presidência brasileira do grupo, trouxe uma forte mensagem de cobrança por ações mais ambiciosas dos governos no combate às mudanças climáticas, desigualdades, fome e pobreza. A entrega do documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste sábado (16), no Boulevard Olímpico, simbolizou um marco no diálogo entre sociedade civil e líderes globais.
O texto, construído por organizações da sociedade civil de diversos países, destaca a necessidade de compromissos mais firmes. Entre as principais propostas está a taxação dos super-ricos como instrumento para financiar políticas sociais e ambientais. De acordo com o Observatório do Clima, rede de organizações ambientalistas brasileiras, essa medida é essencial para enfrentar as crises globais.
“Os países do G20 concentram 80% das emissões de gases de efeito estufa e da riqueza mundial. Nenhum deles pode justificar a falta de recursos sem implementar uma taxação justa sobre os bilionários”, defendeu a entidade.
Reformas urgentes e justiça social
A declaração final também pede reformas em instituições internacionais, como a ONU e o FMI, e defende uma transição energética que reduza emissões sem gerar exclusão social. Para Elisabetta Recine, da Rede Penssan, a taxação das grandes fortunas articula demandas por justiça climática, tributária e alimentar.
“É vergonhoso que grandes fortunas usem instrumentos para pagar pouco ou nada em impostos, enquanto trabalhadores arcam com uma carga tributária desproporcional”, afirmou Recine, destacando que, mesmo sem consenso no G20, o Brasil deve avançar internamente nesse debate.
Mobilização global e protestos
Como forma de pressionar os líderes globais, o Observatório do Clima convocou um protesto na manhã de segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, vinculando a ação à campanha “Taxa os Bi”. A iniciativa busca mobilizar a opinião pública para financiar medidas contra a fome e a pobreza, além de viabilizar uma transição energética justa.
A declaração final do G20 Social reflete a pluralidade dos debates que ocorreram ao longo de três dias. Temas como equidade de gênero, direito à educação e segurança digital também estiveram em pauta, com destaque para a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
A liderança brasileira e o futuro do G20
Renato Godoy, do Instituto Alana, ressaltou o impacto da presidência brasileira do G20. “As mobilizações deixaram marcas fortes, como a participação social evidenciada no G20 Social e o combate à fome e à pobreza, com a criação da Aliança Global”, afirmou.
Para Sônia Mara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens, o G20 Social foi um passo importante, mas insuficiente. “É fundamental que o documento seja levado com seriedade à Cúpula dos Líderes. Porém, é preciso acumular força para enfrentar a lógica capitalista que domina o cenário global”, alertou.
Com a presidência do G20 prestes a ser assumida pela África do Sul, o legado brasileiro se estabelece em torno da inclusão social e da articulação entre sociedade civil e governantes. A cúpula dos líderes, nos dias 18 e 19 de novembro, será o palco para traduzir essas propostas em compromissos concretos.