Um grupo de cientistas concluiram um “quebra-cabeça” de fósseis descobertos desde 2016 na região nordeste da Espanha. O desfecho do trabalho revelou “uma gigantesca tartaruga marinha bizarra”, como foi apelidada por eles.
Nomeada como Leviathanochelys aenigmatica, a tartaruga foi descoberta por meio da junção dos restos fósseis da pélvis e de parte da carapaça dela, evidências que revelaram que o gigante pré-histórico teria cerca de 3,7 metros – o mesmo comprimento médio de um rinoceronte – e habitava os mares europeus há 83,6 milhões de anos.
A descoberta foi feita por cientistas do Instituto de Paleontologia Miquel Crusafont, em Barcelona, e do Departamento de Ciência Geológicas da Universidade Masaryk, na República Tcheca. Os detalhes do estudo foram compilados e publicados na revista Scientific Reports, nesta quinta-feira (17/11)
Os restos fósseis foram encontrados ao longo de diversas escavações feitas entre 2016 a 2021 em Cal Torrades – um território no nordeste da Espanha conhecido por ser um sítio arqueológico oceânico. Em cada busca, os pesquisadores encontravam peças que se encaixavam “com um mesmo indivíduo”, agora conhecido como a tartaruga gigante.
No entanto, a extensão da pelve “mais longa do que comprida” e uma espécie de tubo auxiliar respiratório nunca antes visto em outra táxon (ordem ou classificação biológica) de tartarugas deixou claro aos cientistas que o gigante fazia parte de uma espécie nunca antes conhecida, sobretudo nos mares da Europa.
Por ser uma espécie única nos mares espanhóis, os pesquisadores decidiram batizar a espécie com a junção de dois termos que exemplificam a magnitude da descoberta. O primeiro, Leviathanochelys, é inspirado na besta marinha registrada na Bíblia, o Leviatã – que apesar de ser uma serpente era de tamanhos gigantescos. Já aenigmatica tem origem no grego e significa enigma, devido a descoberta ter sido feita pela junção dos restos fósseis.
Gigante se equipara com a maior tartaruga que já existiu no mundo
A descoberta fez com que Leviathanochelys se tornasse uma das maiores espécies de tartarugas do mundo, comparada pelos pesquisadores com a maior delas: a Archelon, de 4,5m que habitava os mares da América há 66 milhões de anos.
“Leviathanochelys aenigmatica se destaca entre outros pan-quelonóides por suas proporções colossais de tamanho corporal, o que pode ser inferido pelo grande tamanho de sua pelve, ligeiramente maior que a de Archelon. O comprimento do púbis é apenas 14% menor que o de Archelon, o que mostra que no tamanho elas se rivalizam”, destacam os autores no estudo.
A existência da tartaruga também indica que o gigantismo vivenciado por Archelon não se restringe a apenas os mares da América, como era conhecido até então. “Além de ser a maior tartaruga marinha já descoberta na Europa e uma das maiores do mundo, a descoberta de Leviathanochelys sugere fortemente que o gigantismo das tartarugas marinhas foi adquirido de forma independente, por diferentes linhagens ao longo do tempo”, explicam os pesquisadores.
Apesar de não conhecerem o motivo do desenvolvimento de espécies gigantes, os pesquisadores afirmam que é evidenciado que o tamanho “está relacionado com uma combinação de fatores ambientais, como pressão para predação, liberação competitiva, temperatura dos mares, além de fatores ecológicos – como a capacidade de migrar para outros oceanos mais vantajosos.
“A descoberta abre uma nova linha de exploração e levantam novas questões para resolver os mecanismos evolutivos que poderiam ter favorecido a evolução independente de tartarugas marinhas colossais em múltiplas linhagens”, comemoram os pesquisadores.
Fonte: Correio Braziliense