O número de pacientes aguardando por um transplante de córnea no Brasil quase triplicou nos últimos dez anos, saltando de 10.734 em 2014 para 28.937 em junho de 2024. O aumento expressivo reflete desafios que vão desde a interrupção de cirurgias eletivas durante a pandemia da covid-19 até a insuficiência de doadores e falhas na gestão de transplantes. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais lideram o ranking, com cerca de 12,5 mil pacientes na fila de espera.
Conforme divulgado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a pandemia de covid-19 teve um impacto significativo nos procedimentos eletivos, agravando ainda mais a situação. Em 2020, o número de pacientes na fila de espera por um transplante de córnea saltou de 12.212 para 16.337, um aumento de 33%. Esse crescimento continuou nos anos seguintes, alcançando 26.905 pessoas em 2023.
O tempo de espera para um transplante de córnea também é alarmante, com uma média nacional de 194 dias. Estados como Maranhão e Pará lideram a lista dos mais longos períodos de espera, com aproximadamente 19 meses (595 e 594 dias, respectivamente). Em contrapartida, estados como Ceará, Paraná e Pernambuco apresentam tempos de espera mais curtos, com 63, 119 e 121 dias, respectivamente.
Para o CBO, o aumento da fila e o longo tempo de espera são sintomas de distorções na assistência oferecida. Alguns pacientes, em casos extremos, chegaram a esperar até 16 anos por uma cirurgia de transplante de córnea, como aconteceu no Rio de Janeiro.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia estima que, para zerar a atual fila de espera, seria necessário praticamente dobrar a capacidade anual de transplantes no país. Em 2023, o Brasil registrou 16.027 transplantes de córnea, um número significativo, mas ainda insuficiente para atender à crescente demanda. Até junho deste ano, foram realizados 8.218 transplantes, quase 3 mil deles em São Paulo.
Atualmente, o Brasil conta com 651 equipes treinadas para realizar transplantes de córnea, distribuídas em 429 serviços habilitados. Entretanto, a maioria dos especialistas está concentrada nas regiões Sudeste e Sul. São Paulo, por exemplo, conta com 210 equipes transplantadoras, seguido por Minas Gerais (72) e Rio de Janeiro (65).
Para enfrentar esse desafio, o CBO defende a necessidade de uma distribuição mais equitativa dos recursos e de ações coordenadas entre o governo e as organizações de saúde para expandir e otimizar os serviços de transplante de córnea no Brasil. A entidade também destaca a importância de aumentar a conscientização sobre a doação de órgãos e de melhorar a infraestrutura dos bancos de olhos em todo o país.
Os desafios e soluções para os transplantes de córnea no Brasil serão discutidos durante a 68ª edição do Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que acontecerá em Brasília de 4 a 7 de setembro.