Essa pergunta me vem com força à cabeça quando finalmente, depois de muito disse-que-disse, Flávio Dino anunciou sua retirada da quase centenária organização revolucionária para aderir a um dos partidos social-democratas existentes no Brasil, o PSB provavelmente, para concorrer ao próximo pleito eleitoral.
E aí então surgem uma série de leituras equivocadas, no meu modo de entender a questão.
Duas delas são:
- O PCdoB propõe uma frente ampla democrática contra Bolsonaro e Flávio Dino e o PSB esposam a mesma ideia;
- O PCdoB enfrenta grandes dificuldades para ter uma participação efetiva na vida parlamentar do país devido às restrições anti-democráticas impostas. Numa situação em que são muitos os riscos que o partido corre.
Foi nessas circunstâncias que Flávio Dino, com tantas pretensões quantas se possam imaginar, propôs insistentemente que o PCdoB se fundisse com o PSB. Como não encontrou acolhida para sua proposta liquidacionista na direção do partido, ele resolveu empreender uma temerária viagem solo.
Todos se questionam: um governador com tão altos níveis de aprovação em seu Estado, já tendo sido eleito e reeleito pela legenda comunista, não se elegeria agora por essa mesma legenda? O PCdoB não serve mais?
Falaram mais alto os projetos estritamente pessoais. Não foram só as vicissitudes vividas pelo Partido, por maiores que elas realmente sejam.
Penso que o Partido Comunista não deve aplaudir quem abandona suas fileiras e se encaminha para a social-democracia. Mesmo que haja sincronia nos objetivos táticos o partido deve elevar diante deles seu espírito crítico. Ao não se defender e demarcar limites, o Partido sucumbe no atoleiro do oportunismo.
O partido dos comunistas existe para lutar por essas bandeiras: democracia, soberania e direitos do povo e, AO MESMO TEMPO, lutar pelo socialismo, por uma outra sociedade que supere as iniquidades terríveis do capitalismo. Surgiu por isso. E tem todo um papel a jogar enquanto a humanidade não extirpar a exploração entre seus integrantes. Luta dificílima! Mas não é impossível ou inglória. Diante dela não cabe capitulação.
Não é a primeira vez que Flávio Dino abandona as fileiras do PCdoB. Sempre foi bem acolhido. Tem por aqui amigos, amigas e colaboradores. E vai continuar a tê-los, mas a questão aqui não é essa. Antes e agora ele não chegou a compreender que os comunistas querem o Brasil sem Bolsonaro, que os comunistas querem ter uma bancada parlamentar expressiva. Mas querem mais! Querem uma Nação livre, onde o fruto do trabalho dos milhões de brasileiras e brasileiros seja revertido para o seu próprio desenvolvimento material e espiritual. Querem um Brasil socialista.
Quando há quase quarenta anos passei às mãos de Flávio Dino um livro chamado ‘A História da Riqueza dos Homens’ de Leo Huberman, foi para que ele pudesse entender as razões científicas da luta pelo socialismo. Acho que ele não leu, ou se leu, não compreendeu.
Só o Partido Comunista sempre e em qualquer parte do mundo, pode conduzir uma empreitada de tal envergadura.
Repercussão nacional