Em época de restrições a encontros presenciais, o tema da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), “Cinema de todas as telas”, se torna mais que propício, tanto pela novidade do seu formato quanto ao que comemora. Pela primeira vez realizado em ambiente digital, o evento, que teve início na noite de quinta-feira (3) e vai até o dia 7, celebra seus 15 anos e os 70 da TV brasileira.
Diferente de outras mostras e festivais, a CineOP tem a preocupação com a preservação do cinema como patrimônio cultural, algo que se relaciona profundamente com a questão educativa. Assim, a mostra se organiza a partir dessas três temáticas principais, Preservação, História e Educação, refletindo as recentes transformações do audiovisual a partir do tema “Cinema de todas as telas”. Intensificam esse debate e integram também o evento o 15º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: 12º Fórum da Rede Kino.
A coordenadora do evento, Raquel Hallak, explica a importância de preservar o cinema. Para ela, “todos os filmes mostram a cara do povo, reconstituem as realidades heterogêneas do país”. “Se estamos num processo constante de conquista de espaço para o cinema brasileiro, precisamos manter a memória do público em ebulição. Garantir que a presença do nosso cinema seja cada vez maior na memória presente do público e cada vez mais representativa para os cineastas das novas gerações. A preservação da memória do cinema nacional, no sentido mais amplo, é instrumento essencial de desenvolvimento da sociedade, da cultura brasileira, de uma nação”, defende.
É essa urgência que faz com que, mesmo em meio a pandemia, a mostra seja realizada, ainda que em ambiente digital. Entretanto, mesmo isso se tornou propício ao que debatem. Segundo a organização, o público este ano pode “refletir o momento atual mundial, em que a revolução da tecnologia da informação, a transformação dos hábitos culturais, a multiplicação de canais, plataformas, redes e serviços interativos dão o tom da complexidade dos desafios do mundo contemporâneo e globalizado”. É a partir desse pressente, tendo como referência o passado, que a mostra consegue apontar caminhos para o futuro do audiovisual brasileiro.
Por essas razões, a Temática Histórica da mostra aborda a relação entre cinema brasileiro e televisão sob o mote “Televisão: o que foi, o que é e o que ainda pode ser?”. A Temática Preservação observa a produção televisiva como elemento central na formação cultural da sociedade brasileira sob o tema “Patrimônio audiovisual: Acervos em risco e novas formas de difusão”. Já a Temática Educação destaca as múltiplas telas pelas quais as pessoas acessam a produção cinematográfica (de um celular até uma projeção em praça pública) e o que tudo isso implica. Traz como tema “Telas e janelas: Tempo de cuidado, delicadeza e contato”.
Raquel Hallak aprofunda o papel da preservação do cinema refletindo sobre a sociedade atual, que transformou os meios audiovisuais nas principais formas de comunicação e expressão, bem como instrumento formador de opinião e comportamento. Para ela, nesse cenário, “a preservação e o resgate do cinema brasileiro em diálogo com a educação são questões emergenciais da condição humana – um referencial das nossas raízes que favorece o acesso ao conhecimento, a informação e a uma história de longa data, rica e consistente projetada na tela por talentos que merecem ser lembrados e eternizados em nossa memória”.
A coordenara lembra que “a CineOP, ao integrar a educação na estrutura da programação do evento desde sua terceira edição, dá um passo importante de reconhecimento que unir cinema e educação é contribuir para a formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades e habilidades”.
Na abertura virtual, o CineOP promoveu um debate com o cineasta e poeta Tadeu Jungle, a documentarista e uma das curadoras do eixo educação Clarisse Alvarenga, o curador do eixo histórico Francis Volgner dos Reis e o pensador indígena Ailton Krenak. O tema do evento possibilitou uma reflexão sobre as novas tecnologias e o acesso aos meios audiovisuais como ferramenta educativa.
Como ativista e importante líder indígena, Ailton Krenak contou a maneira com a qual foi descobrindo a linguagem da TV e das telas. Disse que desconfiou do meio e da forma com que era feita, mas percebeu sua importância educativa. Ailton Krenak defendeu a ocupação das telas por temas urgentes – a preservação do meio ambiente e a luta dos povos indígenas pela demarcação de suas terras etc.
A mostra traz ao público um notável volume de produções, históricas ou recentes, ao todo 102 filmes: 14 longas, 12 médias e 76 curtas, do Brasil e Argentina, divididos em 33 sessões. Da produção nacional, estão representados 15 estados. Todo podem ser assistidos de maneira gratuita e online. Alguns são pré-estreias e outros, já conhecidos, todos organizados em mostras temáticas que dão o rosto do cinema nacional. Segundo Raquel, “o cinema brasileiro tem todos os sotaques e caras do Brasil”. “A diversidade estética, as imagens, histórias, a produção cinematográfica é o espelho do momento histórico que vivemos. E somos diversos, em posicionamentos, olhares, vozes. Eis a beleza e o diferencial da cinematografia brasileira”, diz.
Além dos filmes, o público poderá participar de 25 debates, oficinas e masterclasses internacionais, sessões de cine-escola, “mostrinha” de cinema para as crianças, projetos audiovisuais educativos, rodas de conversa. A parceria da CineOP com o Sesc Minas, garante ainda uma programação artística intensa, gratuita e diversificada, o que inclui exposição online que celebra os 15 anos da Mostra e cinco lives shows com performance audiovisual, Vj, bandas e artistas de destaque da cena mineira.
Todas as atrações poderão ser vistas no site oficial do evento www.cineop.com.br e pelo canal do Sesc em Minas no Youtube.
Fonte: Dom Total.