Nesta quarta-feira (20), o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, uma data marcada pela luta histórica contra a escravidão e o racismo. Reconhecido oficialmente como feriado nacional em 2023, o dia remonta à morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola e símbolo da resistência negra no país, ocorrida em 20 de novembro de 1695.
O reconhecimento da data como feriado cívico levou mais de cinco décadas para se consolidar, destacando a longa caminhada para valorização das narrativas e protagonismos negros na história brasileira. “Nós só seremos um país de primeiro mundo quando pusermos fim à chaga do racismo, do preconceito e da discriminação”, afirma o senador Paulo Paim (PT-RS), relator da lei que oficializou o feriado.
A Origem do 20 de Novembro
A escolha do 20 de novembro como marco da consciência negra surgiu em 1971, durante a ditadura militar, em Porto Alegre (RS). Um grupo de estudantes e militantes negros, conhecido como Grupo Palmares, liderado por figuras como Oliveira Silveira e Antônio Carlos Cortes, propôs a data em oposição ao 13 de maio, que celebra a assinatura da Lei Áurea. Para eles, a abolição formal da escravidão não representava a verdadeira liberdade para os negros brasileiros.
“O 13 não satisfazia. A abolição só ocorreu no papel; a lei não determinava medidas concretas em favor do negro. Era preciso buscar outras datas e retomar a história do Brasil”, escreveu Oliveira Silveira, um dos fundadores do grupo.
O grupo realizou a primeira homenagem a Zumbi em 1971, enfrentando a censura da ditadura. A ação pioneira inspirou movimentos posteriores, como o Movimento Negro Unificado (MNU), que, em 1978, consolidou o 20 de novembro como um ato político e cultural de afirmação da identidade negra.
Zumbi dos Palmares: Símbolo de Resistência
Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, representa a luta pela liberdade e igualdade. O quilombo, localizado na atual Serra da Barriga, em Alagoas, foi um dos maiores refúgios de resistência à escravidão na história brasileira. Mais do que um espaço de fuga, Palmares foi uma sociedade alternativa, com formas de liderança horizontais e diversidade cultural.
Mesmo após a destruição do quilombo em 1694 e a morte de Zumbi em 1695, sua história permanece como um símbolo de organização e resistência negra no Brasil. “Palmares foi o autêntico berço da nacionalidade brasileira, ao se constituir efetiva democracia racial”, declarou a intelectual Lélia Gonzalez.
Consciência e Educação
O Dia da Consciência Negra é também uma oportunidade para refletir sobre os desafios atuais. Apesar de representarem 55,5% da população brasileira, os negros continuam a enfrentar desigualdades significativas em educação, renda e oportunidades.
Nos últimos anos, políticas públicas como a obrigatoriedade do ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas foram passos importantes, mas insuficientes para superar séculos de exclusão.
Um Feriado para a Reflexão
Mais do que uma pausa no calendário, o Dia da Consciência Negra é um chamado à ação e à reflexão. “É um feriado fundamental para sonharmos com um país verdadeiramente igualitário”, reforça Paulo Paim.
Com iniciativas como a valorização da memória de Zumbi e o fortalecimento de políticas de igualdade racial, a data reafirma o compromisso com a construção de uma sociedade mais justa, onde a utopia da igualdade se torna cada vez mais concreta.