Ainda nem se concluiu este ano e já temos os relatos dos primeiros seres humanos imunizados contra o Coronavírus. Algo espantoso e, ao mesmo tempo, assombroso. Na história da humanidade, muito mais tempo foi necessário para que se descobrissem vacinas para outras doenças, que aterrorizaram a humanidade, há poucos séculos apenas. Mas Deus continua regendo a sua criação também por meio da ciência.
A despeito de toda dor e de tantas perdas, que ainda choramos coletivamente, este ano foi marcado por uma revolução tecnológica sem precedentes. De repente, os escritórios e órgãos públicos ficaram vazios; as pessoas voltaram para suas famílias muito mais conectadas com o mundo, com o trabalho, antecipando o amanhã com muito mais velocidade e a educação e a saúde deram saltos gigantescos. O resultado dessa mudança ainda está sendo avaliado. Mas já se percebe: “estamos indo de volta pra casa”.
Penso que isso acontece porque, para além das transformações, os princípios são eternos. A paz e a boa vontade, desejo de todo clamor do cristianismo, são sinais de alerta. Viver em paz é uma decisão difícil, principalmente quando temos que rebater informações desencontradas – muitas vezes fruto da maldade e da ignorância – e disseminadores do caos. A boa vontade é uma atitude a ser cultivada. Ela nos anima e direciona rumo a um cotidiano de mais significado, de mais atenção ao próximo, por mandamentos divinos.
Todos esses votos passam necessariamente pela valorização da ciência. A história das grandes descobertas ou da defesa de ideias revolucionárias pede um tipo especial de pessoas que, para além da inteligência e amor ao conhecimento, tenha a tenacidade de desbravar novos rumos e horizontes e resistir, muitas vezes, à própria oposição que vem, não raro, de seus pares.
Segundo Abraham Kuyper (2018), “a ciência que é uma criação singular de Deus, é constituída por esse sistema humano de reflexão, tendo sido vocacionada para, de maneira independente, realizar a tarefa que lhe foi designada pelo próprio Deus”. Ciência não é sabedoria do mundo, é natureza divina concedida por Deus ao homem, para que realize segundo os seus desígnios.
Aos que, verdadeiramente, amam a pesquisa e o conhecimento, desejo que encontrem sempre o solo ideal onde possam ser plantadas e frutificadas as sementes que renderão os frutos de novas descobertas que, sendo científicas, são inspiradas por Deus. O conhecimento produz frutos a cada estação propícia, em árvore plantada junto aos ribeiros de águas. Desperta instigações e provoca questionamentos, próprios daqueles sempre dispostos a responderem a novas perguntas e desafios que sequer ainda imaginamos, num mundo sempre em constante transformação.
O final do ano de 2020 exige mais ainda de nós uma reflexão sobre o nascimento de Jesus que abalou o universo. O evangelho de São Lucas descreve uma miríade celestial que informa boas novas de grande alegria. O Salvador já havia nascido pelo poder do Espírito de gerar o menino Jesus, no ventre de Maria. E a humanidade, na sua rebeldia contra Deus, precisaria e continua precisando também nascer de novo.
As nossas distrações diante das notícias e de tantos sofrimentos marcam nossa desatenção para o sentido do Advento. A despeito da pandemia do Coronavírus, que grassa no planeta e que já vitimou milhões de pessoas, precisamos seguir adiante, com fé em Deus e confiança na ciência, por meio da qual Ele nos encaminha às saídas que nos parecem impossíveis.
Por isso, como cristão praticante, acredito que a esperança nascida na manjedoura, se quisermos, fará ninho em nós. Nossos olhos verão coisas alumbrantes, sopradas por Deus, mas tantas vezes escondidas pela indiferença ou pela desconfiança com que vemos a vida. O nascimento do Filho de Deus é um exemplo desse precioso mistério. Muito do que ele faz é por meio da ciência e da arte. O Criador planta na criatura sua natureza divina.
2021 com forças renovada para a luta em prol da ciência. Que o ano novo mostre à sociedade, mais uma vez, o valor das nossas universidades.
Natalino Salgado Filho
Médico nefrologista, reitor da UFMA, titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina