Pesquisadores do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas (UTIG), Estados Unidos, identificaram a existência de um imenso reservatório de água no oceano Pacífico. Este reservatório, segundo os cientistas, pode estar reduzindo a intensidade dos terremotos na Zona de Subducção de Hikurangi, situada próxima à Nova Zelândia.
Publicado na revista Science Advances em agosto, o estudo fundamenta-se em expedições de cruzeiro e perfurações científicas. A detecção do reservatório foi possível graças a uma avançada imagem sísmica 3D, posicionada 2 km abaixo do leito oceânico, próximo à costa da Nova Zelândia.
A água neste reservatório poderia estar minimizando o impacto na falha sísmica da Ilha Norte da Nova Zelândia, que é amplamente conhecida por seus “terremotos em câmera lenta”. Estes eventos dispersam a pressão tectônica acumulada de maneira gradual e inofensiva ao longo de dias ou semanas.
O autor principal do estudo, Andrew Gase, expressou em comunicado: “Ainda não conseguimos ver profundamente o suficiente para saber exatamente qual é o efeito na falha, mas podemos ver que a quantidade de água que está indo para lá é, na verdade, muito maior do que o normal“.
Historicamente, muitos terremotos de deslizamento lento foram associados à presença de água subterrânea. Entretanto, esta é a primeira evidência geológica direta de um reservatório de água tão vasto nessa falha neozelandesa.
Surpreendentemente, o reservatório é parte de uma enorme província vulcânica originada há cerca de 125 milhões de anos, quando um fluxo de lava, vasto como os Estados Unidos, rompeu a superfície terrestre no Pacífico. Este fenômeno representa uma das maiores erupções vulcânicas já registradas.
Para visualizar este antigo planalto vulcânico em 3D, Gase utilizou varreduras sísmicas. Os experimentos laboratoriais realizados por colegas do UTIG, utilizando amostras do núcleo de perfuração da rocha vulcânica, revelaram que quase metade do seu volume é composto por água. “A crosta oceânica padrão, após 7 a 10 milhões de anos, deveria ter muito menos água”, observou o cientista.
A hipótese de Gase é que a retenção de umidade também foi influenciada pela erosão de vulcões por mares rasos, onde ocorriam erupções. Assim, grandes quantidades de água foram armazenadas, assemelhando-se a aquíferos. Com o passar dos anos, a transformação da rocha em argila ajudou a reter ainda mais água.
Esta descoberta pode ser crucial no estudo de terremotos. A pressão da água subterrânea é, segundo os especialistas, um elemento fundamental na criação das condições que liberam o estresse tectônico em terremotos de deslizamento lento. Gase, atualmente bolsista de pós-doutorado na Universidade Western Washington, planeja aprofundar as investigações sobre o destino dessa água e seu efeito potencial na pressão ao redor da falha. A resposta a essas questões pode proporcionar insights valiosos sobre terremotos de grande magnitude.
Por Marcony Edson
*Com informações da Revista Galileu