A Ilha do Maranhão, com aproximadamente 900 km² e uma população de 1.458.836 pessoas (IBGE, 2022), enfrenta um sério desafio de abastecimento de água potável, conforme destacou o ex-governador e Secretário de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos (Sedepe), José Reinaldo Tavares, em um artigo publicado nesta segunda-feira. Tavares baseou suas preocupações em estudos realizados pelo Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), liderados pelo Prof. Dr. Luiz Jorge Dias.
Os estudos da UEMA revelam que a Ilha do Maranhão possui 23 bacias hidrográficas, entre as quais se destacam a Bacia do Rio Anil, Bacia do Rio Bacanga, Bacia do Paciência, Bacia do Rio Tibiri, Bacia do Rio Santo Antônio, Bacia do Rio Geniparana e Bacia do Rio dos Cachorros. A urbanização ocupa 37,1% da Ilha, enquanto 21,5% é constituída por manguezais. Além disso, 37,6% da Ilha são áreas de alta vulnerabilidade hídrica, 36,7% são de baixa vulnerabilidade e 25,3% são intermediárias. Os corpos d’água ocupam apenas 0,02% da área.
Atualmente, a Ilha do Maranhão possui 913 poços oficiais autorizados, além de um número estimado de sete vezes mais poços não licenciados. A maior parte da água provém de um lençol freático que chega a 150 metros de profundidade, já apresentando sinais de salinização devido ao consumo excessivo em relação à recarga.
O sistema Italuis é responsável por abastecer 50% da população, enquanto o restante utiliza água de poços legais e ilegais. Estima-se que mais de 200 mil pessoas consomem água de poços não licenciados. Técnicos da UEMA preveem que até 2037, a capacidade máxima de abastecimento de água potável na Ilha será atingida, estimando-se um limite de 1.700.000 pessoas. Áreas de São Luís e São José de Ribamar já estão no limite de adensamento populacional.
Tavares compartilhou sua experiência em Fortaleza, onde trabalhou no Departamento Nacional de Obras de Saneamento e participou de projetos de abastecimento de água, incluindo a construção da Barragem do Castanhão no leito do Rio Jaguaribe, que resolveu os problemas de abastecimento da cidade e impulsionou a economia local.
O ex-governador sugeriu um projeto semelhante para os rios maranhenses, começando pelo Itapecuru, que já abastece parte de São Luís. Ele destacou que o Maranhão possui 55% das águas do Nordeste, mas não tem cuidado adequadamente desse recurso vital, essencial para indústrias do futuro, como hidrogênio verde, fertilizantes, inteligência artificial e produção de alimentos.
Para solucionar a carência hídrica, Tavares propôs investimentos na Região Metropolitana, criação de polos de desenvolvimento fora da Ilha, como a ZPE de Bacabeira, Porto de Alcântara e Centro de Lançamento, e melhorias no transporte entre a Ilha e outros municípios, utilizando ferryboats e catamarãs. Ele também mencionou a importância de Icatu, que possui lençol freático a 450 metros de profundidade, como um potencial polo industrial.
Para coordenar esses esforços, Tavares sugeriu a formação de uma comissão para o desenvolvimento estratégico da Região Metropolitana, envolvendo a SEDEPE, SEMA, Secretaria de Governo, Casa Civil, Infraestrutura, prefeitos da Região Metropolitana, classes empresariais, universidades, IMESC e ITERMA, com um prazo de seis meses para apresentar soluções.
A situação da Ilha do Maranhão é um alerta para a necessidade urgente de planejamento e ações coordenadas para garantir o abastecimento de água potável e o desenvolvimento sustentável da região.