“Nós sabemos hoje, a ciência nos diz, que nós não podemos apenas reduzir nossa pegada de carbono, mas é provável que até 2035 a gente seja 4% carbono negativo. Isso significa que seremos o primeiro setor que pode reduzir sua pegada de carbono e ter ‘handprint’.” A frase otimista foi dita hoje na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27) por Erin Fitzgerald, CEO da U.S. Farmers & Ranchers in Action, que representa agricultores e pecuaristas, bem como outros líderes em todo o setor de alimentos e agricultura com uma visão compartilhada de cocriar sistemas alimentares sustentáveis.
A “handprint” a que Fitzgerald se refere é o oposto da “footprint”, a pegada deixada por ações não sustentáveis. A “handprint” (impressão das mãos, em uma tradução livre) seria a impressão dos impactos positivos que um produto ou solução produz no ambiente.
Na visão dela, então, a transição para o net zero é totalmente viável para o setor da agropecuária, mas requer inovação e, ainda mais importante, inovação financeira para toda a cadeia de fornecedores. “Para ajudar nossos agricultores a implementar a tecnologia”, afirmou. “Eles têm o coração, a vontade, mas muitas vezes estão perdendo o modelo econômico de negócios para implementar essa tecnologia.”
Segurança alimentar é ponto-chave
Ao lado de Fitzgerald no painel “Food Systems at COP27”, Gilberto Tomazoni, CEO global da companhia brasileira do setor de alimentos JBS, que traçou a meta de se tornar net zero até 2040, reforçou a importância de que se pense em inovações financeiras para o setor. “A agricultura representa mais de 20% da economia, mas cerca de 2% do investimento vai para o setor. É preciso colocar a agricultura no centro da discussão”, defendeu.
Para Tomazoni, a questão da segurança alimentar é uma das maiores preocupações hoje, pois é sobre alimentar 8 bilhões de pessoas e cuidar das questões de mudança climática ao mesmo tempo. “Precisamos produzir mais ao mesmo tempo em que temos que reduzir as emissões”, disse. O que não é contraditório, na visão do executivo. “Temos o conhecimento e a tecnologia para fazer os dois, produzir mais e reduzir as emissões. Temos alguns exemplos nesse sentido, como a integração lavoura, pecuária e floresta, produzindo mais. Já existem soluções. O que precisamos é apoiar os agricultores para que façam essa transição.”
O CEO diz que é preciso assegurar que será possível alimentar a população global. “Como companhia do setor de alimentos, temos essa responsabilidade de colocar comida no prato das pessoas, e reduzir as emissões”, afirmou. Para isso, ele diz, a JBS colocou equipes em campo para ajudar os fazendeiros a fazerem a transformação necessária. “Estamos trabalhando em parceria com os fornecedores para colocar em vigor o blockchain [para rastreamento da cadeia] e estamos dando apoio técnico em cooperação com suporte financeiro para que seja feita a transição [para práticas mais sustentáveis].”
A forma que a JBS dá esse apoio, diz Tomazoni, depende do tamanho do agricultor. Os grandes precisam de menos apoio, ele diz, com alguns incentivos conseguem fazer a adaptação. “Já os pequenos precisam de assistência técnica, é ir lá e mostrar como se faz, e ainda dar apoio financeiro para essa transição. O foco é entender a situação de cada um e estar com os agricultores.”
Tomazoni ressaltou no painel a importância de se criar um mecanismo que apoie os agricultores de forma constante, concordando com a fala de Fitzgerald. “Precisamos encontrar o caminho financeiro para a transição. Conhecimento, ferramentas e dinheiro são pontos importantes para acelerar a transição verde.”
Fonte: Exame