A política brasileira aguardava decisão do STF sobre as condenações do ex-presidente Lula na Operação Lava-Jato para refazer o desenho da disputa pela Presidência da República em 2022. Mesmo assim, essa antecipação é um retrato do momento, o que não impede que se repita nas urnas do próximo ano.
Com a instalação da CPI da Covid no Senado Federal, por determinação do Supremo que acabou confirmada pelo plenário, a fragilidade política do presidente Jair Bolsonaro aumentou muito em questão de dias.
Esse quadro mostra a fragilidade do projeto de reeleição do atual presidente, assim como coloca no jogo muitos atores políticos, os quais poderão se transformar em pedra no íngreme caminho a ser percorrido por Bolsonaro.
A tragédia humanitária que surgiu do fracassado combate à pandemia obriga os brasileiros a repensarem suas opções eleitorais, mesmo faltando mais de um ano para a corrida ao Palácio do Planalto.
Com mais de 365 mil mortos pela Covid-19, a população não pode repetir o erro de embarcar em um projeto político que é uma farsa largamente comprovada. Em outras palavras, o cidadão não pode cair na mesma esparrela.
Enquanto Bolsonaro tenta curar as feridas causadas por um governo desastroso e populista, alguns pré-candidatos se movimentam nos bastidores na esperança de conseguir um lugar ao sol.
Muito tem se falado sobre a necessidade de uma candidatura de centro para derrotar Bolsonaro, mas até agora nenhum dos possíveis protagonistas entusiasmaram a opinião pública.
Pesquisa recente do Data Poder mostrou que o ex-presidente Lula lidera a corrida presidencial desde que recuperou os direitos políticos, enquanto Bolsonaro vê a possibilidade de reeleição ficar cada vez menor no horizonte.
Nesse cenário de incertezas de todos os matizes, arrisco recorrer à parábola do “bode na sala”, sem desejar que ao final o catinguento caprino passe a ser odiado. Trata-se apenas de uma reflexão política com base em fatos atuais.
Enquanto muitos pré-candidatos tentam atrair a atenção do eleitor, um quadro marcado por conhecidas alianças merece consideração. Esse ganha força com a criação da CPI da Covid, que mostra ao brasileiro uma das fórmulas para derrotar Bolsonaro nas urnas.
Partidos como MDB, PSDB, PSD, PT e Rede formam maioria na CPI da Covid, algo que vem assustando os frequentadores do Palácio do Planalto. Se em meio ao desastre em que se transformou o governo Bolsonaro a maior preocupação repousa no avanço da pandemia, não se deve descartar a possibilidade de as citadas legendas se unirem em nome de um projeto para salvar o País.
Alguém pode alegar que essa proposta uniria esquerda, centro e centro-direita, mas para escapar do caos é preciso reflexão e humildade.
Que no próximo ano não se repita o que vivemos em 2018, quando candidatos à Presidência preferiram se agarrar à vaidade e vez de formar um bloco contra Jair Bolsonaro, cuja atuação como governante era previsível. Naquele ano tínhamos excelentes nomes concorrendo ao Palácio do Planalto.
Alguns sinais apontam na direção da importância de se formar uma frente ampla para, derrotando Bolsonaro, livrar o Brasil de um jeito de governar ultrapassado e que ignora os mais necessitados, sempre usados como massa de manobra em determinados momentos.
Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ter se arrependido de na eleição de 2018 não ter votado no petista Fernando Haddad. Essa afirmação é um sinal de que os tucanos podem se alinhar a uma frente contra o atraso e o desvario que marcam a gestão de Bolsonaro.
Lula, que nesta quinta-feira, 15 de abril, tornou-se oficialmente elegível, declarou que em eventual coalizão contra o atual presidente da República o seu partido não obrigatoriamente precisa ser cabeça de chapa. Desde que surja uma candidatura “com mais fôlego que o PT”.
Lula é extremamente inteligente em termos políticos e sabe ser ele o candidato natural do partido. Em eventual frente contra Bolsonaro, o PT poderia indicar alguém como candidato a vice, que não Lula, até porque sua trajetória política não permitiria isso. Em outras palavras, mais uma janela que se abre para o quintal do diálogo.
No meu estado, o Maranhão, o atual vice-governador, Carlos Brandão, filiado ao PSDB, será candidato ao governo com apoio de partidos de esquerda. Nesta quinta-feira, Brandão reuniu-se com algumas lideranças petistas locais. Isso significa que os tucanos contam com essas frentes políticas para construir uma candidatura competitiva no estado. Como filiado ao PSDB, vejo com bons olhos essa possível e promissora aliança, que poderia reverberar nacionalmente.
Se no campo da Física os polos de naturezas opostos se atraem, enquanto que os iguais se repelem, no universo da política essa máxima não é regra. A política é, acima de tudo, a arte do diálogo e da convergência de ideias e ideais. Esse é o momento para iniciar diálogos.
Ao que parece, pelo menos por enquanto, todos os que tentam se habilitar como presidenciáveis têm o mesmo propósito: resgatar o Brasil do cativeiro do atual governo e devolver a dignidade ao cidadão comum.
Tomemos como exemplo os movimentos iniciais para a sucessão no Maranhão e o quebra-cabeças partidário que se formou na CPI da Covid e que já tira o sono de Bolsonaro.
Ainda é cedo para bater o martelo, mas diálogos e conjecturas podem desanuviar o horizonte. Até porque, voltando na linha do tempo, estamos vivendo uma polarização política que exige a união de pessoas que podem salvar o País, sem espaço para aventureiros de plantão.
Ainda recorrendo à Física, a terceira Lei de Newton afirma que para toda ação surge uma reação. É chegada a hora de o Brasil e os brasileiros reagirem, em nome de um amanhã menos conturbado e com boas doses de esperança.
(*) Waldir Maranhão – médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.