Em solenidade realizada nesta sexta-feira (19), a Câmara Municipal de São Luís homenageou Isabel Mesquita, a Mãe Kabeca de Xangô, Ialorixá da Casa Fanti-Ashanti, com a Medalha do Mérito Legislativo ‘Mãe Andressa’. Proposta pelo Coletivo Nós (PT), a homenagem é um reconhecimento à ialorixá por sua luta contra o racismo religioso e pela preservação dos saberes ancestrais.
O co-vereador do Coletivo Nós, Jhonatan Soares, explicou que é a segunda vez na história recente que uma mulher negra é homenageada pela Casa. “A Medalha do Mérito Legislativo ‘Mãe Andressa’ foi criada em 2006, pelo então vereador Batista Botelho, que esteve na Casa por dois mandatos e saiu sem conseguir entregá-la. Desde então, nenhum outro parlamentar a concedeu”, pontuou ele, lembrando que a primeira agraciada com a medalha foi a professora Claudett Ribeiro, em maio de 2022, também por iniciativa do coletivo.
Sobre a homenageada, destacou que é um ano jubilar para a Casa Fanti-Ashanti, já que Mãe Kabeca de Xangô completa 70 anos de idade e 50 em que se consagrou mina. “Mãe Kabeca é um exemplo vivo de representatividade da luta cotidiana contra o racismo, contra a discriminação religiosa e pela valorização dos saberes antigos”, disse o co-vereador destacando sua sabedoria e firmeza diante de um recente ataque por fundamentalistas pentecostais à casa espiritual.
De acordo com a homenageada, receber a honraria é resultado da sua luta, do seu amor e da sua resistência, iniciada ao lado de Euclides Menezes Ferreira, mais conhecido como Pai Euclides TalaPorian, babalorixá fundador da Casa Fanti-Ashanti, de quem herdou a responsabilidade de comandar a casa espiritual. “Quero agradecer a ele, por todo o ensinamento que me foi passado, aos meus antepassados, ao povo de Axé, a minha família biológica e espiritual, porque todos fazem parte da minha história, fazem parte da minha vida”, disse Mãe Kabeca de Xangô.
“Tenho muito respeito, admiração e uma segurança de dizer que Mãe Kabeca representa o que nós, povo negro, hoje buscamos. Mãe Kabeca não é só uma religiosa, mas uma militante na luta contra o racismo, contra a desigualdade, contra a forma pejorativa com que a mulher é tratada, com que o povo negro é tratado”, afirmou a diretora do Ilê Aiyê da Casa Fanti-Ashanti, Maria de Lurdes Siqueira. “Ela foi escolhida pelo Pai Euclides, que é um ícone da religião afro-brasileira, porque é mãe em todas as suas definições”, acrescentou, agradecendo o Coletivo Nós pelo reconhecimento.
A coordenadora adjunta do Comitê de Diversidade do Tribunal de Justiça do Maranhão, juíza Elaile Carvalho, da Comarca do município de Codó, destacou que o poder judiciário está atento às questões de matrizes africanas, visando combater o racismo religioso ainda existente na sociedade brasileira. “É lindo ver o Poder Legislativo ocupado por pessoas que fazem parte destas religiões, que infelizmente há séculos sofrem discriminação e que devem ocupar não só este, mas outros espaços de poder”, falou a magistrada, acrescentando que Mãe Kabeca tem um simbolismo grande, por promover o fortalecimento e a união entre as religiões de matrizes africanas em São Luís.
Ainda fizeram parte da mesa os co-vereadores do Coletivo Nós, Eni Ribeiro e Flávia Almeida; a presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina de São Luís, Silvia Leite; a fundadora da Casa Fanti-Ashanti, Maria dos Remédios Santos Lima; o professor e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFMA, Carlos Benedito; e, Camila do Santos Costa, sobrinha-neta da homenageada.
(Secom)