O governo federal confirmou que o Brasil não adotará o horário de verão em 2024. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira (16) pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, após reunião com representantes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O ministro destacou que a medida pode ser reavaliada para o período de 2025/2026, dependendo das condições energéticas do país.
“Chegamos à conclusão de que não há necessidade de decretação do horário de verão para este período, para este verão”, afirmou Silveira durante coletiva de imprensa. Ele explicou que, apesar da recente crise hídrica, o Brasil apresenta uma melhora nas condições dos reservatórios e a segurança energética está assegurada para enfrentar os meses mais quentes.
Silveira ressaltou que a decisão sobre o horário de verão precisa ser tomada de forma técnica e estratégica, considerando tanto os benefícios econômicos quanto os impactos no setor elétrico. “É importante que esta política seja sempre considerada. Não pode ser fruto de uma avaliação apenas dogmática ou de cunho político, pois tem reflexos tanto positivos quanto negativos”, declarou.
O ministro também destacou que em alguns países, como a França, o horário de verão é adotado principalmente por razões econômicas, enquanto em outros o foco é a segurança energética. No Brasil, a medida teve impacto significativo em setores como o turismo, comércio, bares e restaurantes, ao proporcionar um melhor aproveitamento da luz natural no fim do dia.
A decisão de não implementar o horário de verão neste ano foi influenciada pelo cenário de seca severa enfrentada pelo Brasil em 2024. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemanden), o país viveu a maior seca já registrada, afetando especialmente as regiões Sudeste e a cabeceira de importantes rios.
Mesmo com a crise hídrica, o ministro Silveira destacou que, graças a ações de planejamento energético, os reservatórios apresentam níveis de resiliência satisfatórios. “Graças a algumas medidas de planejamento feitas durante um ano, conseguimos chegar com nossos reservatórios com índices de resiliência que nos dão certa tranquilidade”, explicou.
O horário de verão foi instituído no Brasil pela primeira vez em 1931 e, desde então, foi adotado de forma intermitente até 1985, quando passou a ser implementado anualmente. A justificativa inicial era a redução do consumo de energia elétrica, aproveitando os dias mais longos do verão. No entanto, a medida foi suspensa em 2019 durante o governo Bolsonaro, que apontou mudanças nos hábitos de consumo da população e horários de maior demanda energética como fatores que reduziram a eficácia da iniciativa.
A discussão sobre a volta do horário de verão divide a população brasileira. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 7 e 8 de outubro, 47% dos entrevistados são favoráveis à medida, enquanto outros 47% são contrários, e 6% se dizem indiferentes. A pesquisa contou com 2.029 entrevistados em 113 cidades de todas as regiões do país.
Outro levantamento realizado pelo portal Reclame Aqui em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) apontou que 54,9% dos participantes apoiam a volta do horário de verão, sendo que 41,8% se declararam totalmente favoráveis e 13,1% parcialmente favoráveis. A pesquisa também revelou que 25,8% são contrários à mudança e 17% se mostraram indiferentes.
Com a decisão de manter os relógios inalterados em 2024, o governo federal mantém aberta a possibilidade de retomar a discussão em 2025, dependendo das condições energéticas e da evolução do cenário hídrico. Até lá, a atenção permanece voltada para o planejamento e a gestão dos recursos hídricos e energéticos do país, buscando garantir a segurança energética sem a necessidade de ajustes sazonais nos relógios.