Por Steffano Silva Nunes
O apoio que deu a Teseu e Ariadne na luta contra o Minotauro custou caro para Dédalo. Já que havia ensinado a forma de Teseu escapar, teve como castigo viver junto com seu filho, Ícaro, no labirinto que ele mesmo havia projetado para abrigar a mitológica figura grega, meio homem meio touro, foi o que lhe impôs o Rei Minos. Como forma de escapar, resolveu dar vazão ao sonho de Ícaro: voar. Sendo um grande arquiteto, projetou e confeccionou asas feitas de penas de gaivotas e fixadas com cera de abelhas.
O plano deu certo, mas a empolgação de Ícaro o levou a uma altitude fora do planejado e o sol derreteu a cera, provocando uma tragédia assistida pelo pai. De lá pra cá não paramos de sonhar em conquistar os céus e o espaço. Uma corrida que nunca chega ao fim, pois seguimos vivendo novos capítulos.
A China teria produzido os primeiros Balões de ar quente. O Conde alemão Ferdinand Von Zeppelin inventou e deu nome aos dirigíveis rígidos que inauguraram voos de longa distância. Os irmãos Wright tem reconhecimento oficial até no site da agência espacial americana (NASA) como inventores do avião. Mas foi o brasileiro Alberto Santos Dumont que conseguiu “matar a cobra e mostrar o pau”. Reuniu testemunhas, entidades oficiais e, publicamente, voou com o 14-Bis em decolagem própria pelo campo de Bagatelle da bela Paris. Nunca registrou uma só patente dos seus inventos. Acreditava que aquele conhecimento deveria ser compartilhado com toda a humanidade. Se tornou o pai da aviação.
Depois vieram os foguetes com várias etapas importantes da disputa pelo Cosmos. A extinta URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) saiu na frente colocando em órbita o primeiro satélite artificial: Sputnik, a cadela Laika e o primeiro ser humano a orbitar a terra: Yuri Gagarin. Os americanos não aceitaram ficar para trás e levaram Neil Armstrong ao solo lunar para gritar ao universo: um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade.
Agora surgem os muito, muito, muito ricos, aparentemente, rasgando dinheiro, para realizar seus feitos espetaculares de chegar ao espaço sideral. Já conquistaram tanto, mas ao que parece, ainda não encontraram o sentido para que a vida deixe de ser vã. Quando retornam à terra, as ações das suas empresas valem mais do que valiam antes da decolagem. Um excelente negócio. Se associam aos governos nas missões, mordem um pouco de verba pública e ainda voltam mais ricos.
Já instigaram um questionamento nas redes sociais: Será que os OVNIS que enxergamos por aqui são apenas os ricaços de outros planetas? Nosso compositor e poeta nordestino já havia previsto na canção “Espacial” que um dia as naves seriam tão comuns que se tornariam estrelas artificiais a cruzar os horizontes, acreditando que o céu não teria dono. Será?
“Quem mora no Oriente não vai se incomodar
Ao ver que no Ocidente a estrela quer passar
Não há mais abandono, nem reino de ninguém
Se a terra já tem dono, o céu ainda não tem…”
Eu, que não me dou bem com os pés fora do chão, acho estranha essa inversão de prioridades. Considerando que temos um vírus a ser vencido, guerras que geram hordas de refugiados e filas em busca de ossos para acalmar a fome, penso que nossos trilionários terrestres poderiam ajudar mais. Não me vejo embarcando no delírio de uma “Elysium”. Acho que vou ficar pela terra mesmo, confirmando as previsões do nosso ídolo-poeta:
“Quem não quiser deixar a Terra em que vivemos
Pelos astros onde iremos
Vai ouvir, ver e contar
Tantas estrelas quantas forem nossas naves
Noutros mares mais suaves
A voar, voar, voar…”