O governador de São Paulo, João Doria Júnior, conseguiu entrar para a história com o início da vacinação contra a COVID-19. Mônica Calazans, 54 anos, mulher, negra e enfermeira, que apesar de compor o grupo de risco do novo coronavírus, vem trabalhando na linha de frente do combate da pandemia cuidando de pessoas infectadas e se expondo ao vírus. Foi ela a primeira a receber a vacina no Brasil, neste domingo, 17 de janeiro.
O governador paulista acompanhou a vacinação e discursou. Pouco antes a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, havia autorizado o uso emergencial da CoronaVac. A vacina já foi motivo de uma verdadeira novela, onde o governo federal e os seguidores do presidente, principalmente, se esforçaram muito para desacreditar a mesma, de tal modo que impingiram-lhe o apelido de vacina “chinesa”. Em seguida, Brasilia tentou se apoderar da vacina que antes não acreditava.
Foi tudo tão rápido que eu mesmo, recebi primeiro a notícia de que a enfermeira foi vacinada e só depois me chegou a informação de que a Anvisa já havia liberado a vacina. Doria deu uma lição de marketing e preparo diante das oportunidades. Fez parecer que já estava só esperando a hora “H” para transformar o dia “D” em dia “V”, conforme suas próprias palavras.
O dia “V” da vacina, da verdade, da vitória e da vida. Enquanto o ministro da saúde alegava que as vacinas deveriam ser distribuídas pelo governo federal, o governador de São Paulo se antecipou e ainda atacou dizendo que o governo brasileiro não colocou um centavo sequer no desenvolvimento da vacina e mandou o ministro ir trabalhar.
A Doria o que é de Doria. Ele foi de fato o maior protagonista desse processo de desenvolvimento da CoronaVac. Não se intimidou com a pressão do governo federal e soube responder e agir à altura dos fatos. Se elegeu prometendo trazer para a política seu estilo de empresário, dando eficiência e eficácia ao serviço público. Quanto à vacina, cumpriu a promessa.
É claro que a intenção de se candidatar à presidência da república o motiva a buscar visibilidade. Um trabalho que tem sido facilitado pelo atual presidente, Jair Bolsonaro, que não perde uma oportunidade de levantar a bola para o Doria. O show de horrores e insensibilidade do presidente deram de mão beijada a oportunidade para João Doria fazer um gol de placa.
Apesar de ter apoiado a eleição de Bolsonaro, o governador de São Paulo foi se distanciando de forma recíproca do planalto. A esperança de que Bolsonaro se tornasse um novo polo de poder da direita brasileira foi perdendo força na medida em que o extremismo se tornou a principal marca do governo federal.
Mesmo assim, ainda existe a figura de Paulo Guedes, ministro da economia, que pode ser um ponto em comum, pois a agenda liberal os une. O estado mínimo e o forte vínculo com setores do capital financeiro são afinidades que podem garantir uma unidade futura.
Mas é preciso tirar o chapéu e reconhecer que, de uma tacada só, Doria mostrou que Bolsonaro, mesmo sendo presidente, consegue realizar menos que um governador. E de quebra, também sinalizou para a esquerda o seu potencial. Enquanto se cercava de técnicos competentes, com vasto currículo, no combate à pandemia, assistíamos aqui no Maranhão, por exemplo, o governador nomeando um amigo advogado para cuidar da saúde, demonstrando que não quer e não deve ser levado a sério quando o assunto é pandemia.
Doria mostrou pra todos os lados da política que as piores crises forjam grandes líderes e que é nessas horas que se diferenciam os que tem capacidade de fazer dos que não conseguem ir além do discurso.