O cinema brasileiro alcançou um marco inédito na noite do último domingo (2), quando Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional. A premiação coroa uma trajetória de sucesso da produção, que já havia sido amplamente elogiada pela crítica e acumulado diversos prêmios internacionais, incluindo o Globo de Ouro e o Festival de Veneza.
Uma homenagem à resistência
Em seu discurso ao receber a estatueta, Walter Salles dedicou o prêmio à protagonista da história real que inspirou o longa: Eunice Paiva, mulher que enfrentou a perda do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, assassinado durante a ditadura militar brasileira. O diretor também homenageou as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que interpretaram Eunice em diferentes fases da vida.
“Esse filme vai para uma mulher que, após uma perda enorme por um regime autoritário, decidiu não se render: Eunice Paiva”, afirmou Salles, emocionado.
O filme retrata a luta incansável de Eunice em busca de justiça, tornando-se um símbolo de resistência em meio a um período de repressão política. Além disso, a obra busca lançar luz sobre a ditadura militar no Brasil, tema ainda sensível e de grande relevância no atual cenário político do país.
Reconhecimento e impacto internacional
Ainda Estou Aqui foi amplamente aclamado pela crítica e atingiu uma aprovação de 97% no Rotten Tomatoes, um dos principais agregadores de críticas do mundo. A produção também se destacou por sua exibição nos cinemas dos Estados Unidos, onde chegou a ser exibida em mais de 700 salas.
Jornais como The Times e The Guardian elogiaram a profundidade emocional do longa, destacando-o como um dos grandes filmes sobre maternidade e resistência política. Já Caryn James, crítica de cinema da BBC, classificou o filme como “uma obra que mistura o pessoal, o político e o artístico de maneira única”.
Impacto na política brasileira
O sucesso do filme reacendeu debates sobre a revisão da Lei da Anistia no Supremo Tribunal Federal (STF). A retomada do julgamento de crimes cometidos durante a ditadura militar foi impulsionada pela comoção gerada pela obra, que trouxe à tona a impunidade em casos de violência política no Brasil.
Sérgio Suiama, do Grupo de Trabalho Justiça de Transição do Ministério Público Federal, afirmou que o impacto do filme foi decisivo: “Com certeza, estava tudo parado há anos. Esse movimento na Justiça coincide com a repercussão do filme”.
Um novo fôlego para o cinema brasileiro
A conquista inédita de Ainda Estou Aqui no Oscar representa um novo momento para o cinema nacional. Desde Central do Brasil (1998), também dirigido por Walter Salles, o Brasil não via um filme seu alcançar tamanha visibilidade e reconhecimento internacional.
Para Isabela Boscov, crítica de cinema, a vitória pode abrir portas para uma nova fase do cinema brasileiro. “Depois de anos de dificuldades para a indústria cultural, esse Oscar pode ser um marco para o Brasil voltar ao centro das atenções do cinema mundial”, afirmou.
O Oscar de Ainda Estou Aqui não apenas celebra a excelência do cinema brasileiro, mas também reforça a importância de contar histórias que resgatam memórias e promovem reflexões sobre a democracia e os direitos humanos.