Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) revelou que 78% do lixo plástico encontrado nas praias do Ceará é proveniente de países africanos. Conduzido pelo projeto Detetive Plástico, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), o estudo identificou que as correntes marítimas do Atlântico trazem resíduos de países como República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Nigéria, Angola, África do Sul e Camarões até o litoral cearense.
A investigação começou em 2022, quando o professor Tommaso Giarrizzo, do Labomar, observou tampinhas de garrafa com marcas desconhecidas nas areias da Praia do Porto das Dunas. Isso motivou a equipe a iniciar uma pesquisa que envolveu a coleta de amostras em três praias do Ceará: Praia do Futuro, Porto das Dunas e Jericoacoara. Além de itens comuns como tampinhas, garrafas PET e canudos, o estudo identificou embalagens de marcas africanas, destacando a origem dos resíduos.
O Caminho do Lixo
Os plásticos fazem um longo percurso para cruzar o Atlântico, sendo transportados pelas correntes marítimas em um trajeto que pode durar de seis a onze meses. A pesquisa mostrou que cerca de 90% dos resíduos identificados como africanos vêm da República Democrática do Congo, país que possui apenas 37 quilômetros de costa, mas que deposita toneladas de lixo plástico no oceano, principalmente através do rio Congo, um dos maiores do mundo. As águas do rio levam esses resíduos até o Atlântico, de onde são carregados até o Brasil.
Um Problema Transatlântico
Os pesquisadores do projeto Detetive Plástico alertam para a dimensão transatlântica do problema. “Esse despejo de lixo plástico na África não é um evento isolado, ele ocorre periodicamente, e periodicamente chega ao Brasil”, explica Lúcio Brabo, estudante de doutorado e coautor do estudo. Além de impactar as praias cearenses, os resíduos podem ser transportados até o Caribe e o sul dos Estados Unidos.
Impactos e Riscos para a Saúde
Além de sujar as praias, os resíduos representam riscos para a saúde pública. Os plásticos que viajam longas distâncias podem transportar organismos marinhos e patógenos estranhos ao ecossistema local. “Imagina um plástico que chega depois de meses no oceano, trazendo consigo algas, cracas e patógenos que podem ameaçar a saúde de quem frequenta as praias,” alerta Tommaso Giarrizzo.
Necessidade de Monitoramento e Políticas Públicas
A pesquisa destacou a falta de monitoramento regular dos resíduos nas praias brasileiras, recomendando que políticas públicas incluam o acompanhamento de resíduos plásticos nas praias, além das análises de balneabilidade da água. Para os pesquisadores, o estudo é um sinal de que é urgente investir em soluções para o problema e estabelecer iniciativas de monitoramento costeiro para proteger tanto o turismo quanto a saúde das populações locais.
Com o crescente fluxo de lixo plástico de outros continentes, a equipe do Detetive Plástico reforça a necessidade de cooperação internacional para combater o despejo e o transporte de resíduos plásticos no oceano.