Um novo estudo alarmante do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK) revela que o planeta Terra já ultrapassou sete dos nove limites planetários essenciais para a manutenção do equilíbrio ambiental. A pesquisa, que lança um alerta sobre os riscos de desastres ambientais irreversíveis, aponta que o aquecimento global é um dos principais responsáveis por esse cenário preocupante.
Os limites planetários foram propostos pela primeira vez em 2009 pelo cientista Johan Rockström, diretor do PIK, como uma maneira de quantificar e alertar sobre as pressões que a Terra enfrenta devido à ação humana. Estes limites referem-se a processos fundamentais para a manutenção do equilíbrio ambiental, e sua ultrapassagem coloca em risco a capacidade do planeta de sustentar a vida como conhecemos.
7 Limites Já Ultrapassados
A análise do PIK identificou que sete processos ecológicos já superaram níveis seguros, entrando em zonas de risco, ou estão muito próximos disso:
- Mudanças no Uso da Terra (Desmatamento): O desmatamento desenfreado para expansão de áreas agrícolas e urbanas reduziu drasticamente a cobertura florestal global, afetando a regulação climática e destruindo habitats naturais. A cobertura atual de florestas está em apenas 59% do que seria considerado seguro, muito abaixo dos 75% ideais para manter a estabilidade ecológica.
- Mudanças Climáticas: A concentração de CO₂ na atmosfera alcançou 422 ppm em 2024, bem acima dos 350 ppm estabelecidos como limite seguro para conter o aquecimento global. Esse aumento de gases de efeito estufa intensifica eventos climáticos extremos, como ondas de calor e inundações, e agrava a crise climática.
- Perda de Biodiversidade: O estudo destaca uma perda significativa na integridade da biosfera, com a extinção de várias espécies, principalmente em áreas onde a terra é utilizada de forma intensiva. A diversidade genética dos ecossistemas está sendo prejudicada, comprometendo a resiliência dos sistemas naturais frente às mudanças ambientais.
- Ciclo do Nitrogênio e Fósforo: O uso excessivo de fertilizantes comprometeu o equilíbrio desses nutrientes, resultando em um acúmulo perigoso nos ecossistemas aquáticos. A fixação de nitrogênio industrial alcançou 190 Tg N/ano, e o fluxo de fósforo para os oceanos atingiu 22,6 Tg P/ano, ambos muito acima dos limites seguros.
- Uso de Água Doce: O consumo excessivo de água doce em regiões específicas está afetando rios, lagos e aquíferos. Cerca de 18% da superfície terrestre enfrenta alterações significativas nos fluxos de água, colocando em risco a sobrevivência de ecossistemas que dependem desses recursos.
- Poluição Química: Compostos tóxicos, como microplásticos e outros produtos químicos sintéticos, estão se acumulando em níveis que ultrapassam a capacidade natural de absorção e decomposição do planeta, ameaçando a biodiversidade e a saúde humana.
- Acidificação dos Oceanos: Embora ainda esteja dentro de uma zona segura, a acidificação dos oceanos está se aproximando rapidamente do limite crítico. Esse fenômeno afeta a capacidade de organismos marinhos, como corais e moluscos, de formar estruturas calcárias, comprometendo a saúde dos recifes de coral e a biodiversidade marinha.
Limites Ainda em Zona Segura
Os outros dois processos analisados pelo estudo ainda não alcançaram níveis críticos. A camada de ozônio, por exemplo, tem se recuperado graças a ações internacionais coordenadas, como o Protocolo de Montreal. Já o aumento de aerossóis na atmosfera, que altera padrões climáticos regionais, permanece sob controle em termos globais.
Ameaça ao Futuro do Planeta
Segundo o estudo, o Planeta Terra está em uma condição crítica, e sem ações imediatas, a humanidade pode acelerar ainda mais a crise climática e ecológica. Renata Piazzon, do Instituto Arapyaú, enfatiza a urgência: “Os dados mostram que o planeta está sob enorme pressão. Se não tomarmos medidas imediatas, estaremos acelerando ainda mais a perda de biodiversidade e os impactos das mudanças climáticas”.
O relatório destaca que, para reverter ou mitigar esse cenário, é necessário reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, restaurar florestas e adotar práticas agrícolas sustentáveis. As próximas décadas serão decisivas para a sobrevivência de ecossistemas e da própria humanidade.