A sinergia das celebrações que envolvem o Brasil em 12 de outubro convoca uma reflexão única, amalgamando a alegria inocente e vibrante das crianças com a devoção sólida e serena aos pés de Nossa Senhora Aparecida. A dupla comemoração, que incita tanto o riso fácil dos pequenos quanto as preces fervorosas dos devotos, desenha um contraste notável, mas paradoxalmente harmonioso. Este dia, polvilhado por brinquedos e orações, suscita um intrigante questionamento entre os observadores: a convergência destas celebrações na mesma data seria um mero acaso do calendário ou haveria, submersa nas entrelinhas da história, uma ligação mais profunda entre elas? Embora estas datas coexistam pacificamente, alimentando tanto o comércio quanto o espírito, elas foram estabelecidas independentemente e, curiosamente, dialogam sobre a pureza e a esperança, pilares que sustentam tanto a infância quanto a fé.
Conexão e afeto no dia das crianças
O Dia das Crianças não é somente um dia de presentear os pequenos, mas sim, um instante de reflexão sobre o valor e a importância de proporcionar momentos alegres e construtivos a eles. A origem dessa celebração remonta ao 3º Congresso Sul-Americano da Criança, realizado no Rio de Janeiro em 1923. O evento reuniu políticos de diversas nações para debater pautas de vital importância relacionadas à infância, como questões educacionais e nutricionais.
A proposição do Dia das Crianças surgiu como um eco das vozes que ali se manifestavam em prol dos direitos e do bem-estar infantil. Galdino do Valle Filho, ao perceber a necessidade de sedimentar tais pautas em algo mais palpável, propôs em 1924, uma lei que decretava o dia 12 de outubro como o Dia das Crianças no Brasil. Essa proposta foi sancionada pelo então presidente Arthur Bernardes, através do Decreto 4.867.
Contudo, a popularização da data só viria a ocorrer nas décadas subsequentes, quando a indústria de brinquedos, como a Estrela, viu na comemoração uma oportunidade mercadológica. Campanhas publicitárias foram estrategicamente direcionadas para alavancar as vendas de produtos infantis, consagrando a data no imaginário popular e no calendário comercial do país.
Nossa Senhora Aparecida: fé e devoção
Por outro lado, o Dia de Nossa Senhora Aparecida, celebrado com fervor pelos fiéis, tem sua origem pautada na fé e nos milagres atribuídos à santa. A história narra que em 1717, três pescadores lançaram suas redes no Rio Paraíba do Sul, em uma tentativa de coletar peixes para um evento importante. Após orações e quase desistindo de uma pescaria frustrada, João Alves retirou das águas uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, inicialmente, sem cabeça, e em uma segunda tentativa, a cabeça foi também resgatada. Seguido a isso, suas redes foram milagrosamente preenchidas por uma abundante pesca.
Essa narração propiciou a construção de uma capela em homenagem à santa, dezessete anos após o episódio, tornando-se um ponto de peregrinação e orações. A data de 12 de outubro como o Dia de Nossa Senhora Aparecida foi oficialmente instituída através do decreto de Lei nº 6.802, em 1980, também sendo reconhecida pelo Papa João Paulo II como o Santuário Nacional.
Conclusão: duas celebrações, um símbolo de união
Apesar da intrigante coincidência de datas, as celebrações do Dia das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida surgiram em contextos distintos e por motivações diferentes. Enquanto uma mira na valorização e no cuidado com a infância, a outra se firma na fé e na devoção religiosa. Ambas, entretanto, se encontram na capacidade de unir pessoas, sejam elas ligadas por laços familiares ou pela fé compartilhada.
É essencial celebrar ambas as datas com respeito e dedicação, proporcionando às crianças momentos mágicos de alegria e, simultaneamente, reverenciando a fé e devoção a Nossa Senhora Aparecida com a profundidade que a data requer.
Por Marcony Edson